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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A mediação de Lula
07/03/2014 - O Estado de S.Paulo

É de autoria do deputado peemedebista gaúcho Osmar Terra a síntese perfeita do que o PMDB entende ser a sua serventia última para o projeto do segundo mandato da presidente petista Dilma Rousseff.

"Somos só 6 minutos de propaganda eleitoral para eles", escreveu no Twitter. "Nada mais!" No entanto, vista a questão pelo ângulo da política como a capacidade de agregar interesses e construir maiorias, tem mais, sim.

As ambições hegemônicas do PT, agigantadas sob Dilma, e os métodos rombudos a que a sigla recorre desde sempre para satisfazê-las impedem que ceda ao aliado à beira de um ataque de nervos pelo menos um pouco do que ele quer pelos minutos de que dispõe.


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Os petistas, que tanto reverenciam o saber do povo, ignoram uma velha receita popular adequada às circunstâncias: "Não é com vinagre que se pegam moscas, mas com açúcar". No caso, com o doce sabor da ocupação de mais um Ministério aqui, outro acolá, e o rearranjo nas coligações eleitorais nos Estados.

Ao demonstrar inflexibilidade, a presidente e a direção do PT decerto partem da premissa de que o PMDB do vice Michel Temer pode falar o quanto queira em largar a base aliada no Congresso e a empreitada da reeleição, mas não tem para onde ir. Com o segundo mandato praticamente assegurado, quem sabe até no primeiro turno - hão de raciocinar olimpicamente -, e a visceral inaptidão peemedebista para fazer oposição seja lá a que governo, a sua sina seria exorcizar com queixas inconsequentes as mágoas da condição de sócio menor a que se sente relegado. Ao fim e ao cabo, pode ser isso mesmo. Mas pode também ser um autoengano, fruto da incurável soberba petista.

Nada, nada, o PMDB criou na Câmara um "blocão" de oito bancadas, uma delas, a do Solidariedade, pescada na oposição. Os seus 250 deputados representam perto da metade dos 513 membros da Casa. O blocão se propõe a assustar o Planalto com a perspectiva de levar à votação propostas perdulárias que sabotariam o programa de contenção de gastos anunciado pela Fazenda, a menos que o governo sacie os apetites do condutor do "cordão dos chantagistas", como se qualificou neste espaço (em 26/2) a nova frente dita independente.

O cordão ainda não apareceu na avenida, mas a situação está ficando "insustentável", no dizer do presidente em exercício do partido, Waldir Raupp, para quem a crise está chegando ao Senado que ele integra. E Raupp é dos que se opõem a uma ruptura com o PT. Foi nesse clima de Quarta-Feira de Cinzas que desembarcou nesse dia em Brasília o ex-presidente Lula para se reunir no Alvorada com a sucessora e o alto comando de sua campanha. No PMDB, onde deixou saudade, ele é visto como o mediador por excelência do confronto com Dilma, a quem vive recomendando ter mais jogo de cintura.

Resta saber - e não é pouco - o que significa isso na prática. Uma das principais demandas peemedebistas, por exemplo, é receber o suculento Ministério da Integração Regional, que ficou vago com a saída do pernambucano Fernando Bezerra Coelho, do PSB, quando o partido rompeu com o governo. O PMDB quer que a Pasta seja entregue ao senador paraibano Vital do Rêgo. Dilma insiste em oferecer a cadeira ao cearense Eunício Oliveira - só para tirá-lo da corrida pelo governo estadual, como querem os irmãos Cid e Ciro Gomes, que deixaram o PSB para ficar com o governo.

É, de fato, o que parece: um cabo de guerra fisiológico pelo poder, à revelia das populações que mais dependem do governo federal. Não é diferente quando os peemedebistas reclamam de ter apenas 5 Ministérios, ante os 17 do PT. Tampouco é diferente quando o PMDB o acusa de escanteá-lo nas disputas estaduais. Desde a virada do ano, caíram de 16 para 5 as possíveis coligações entre as duas legendas. A principal meta petista, além de tomar do PMDB o governo do Rio de Janeiro, com a candidatura do senador Lindbergh Farias, é ampliar a distância entre a sua majoritária bancada na Câmara e a do aliado nominal.

Tais são os limites impostos pela correlação de forças em Brasília à "mediação" que os peemedebistas esperam de Lula: ele pode aconselhar ou até pressionar Dilma, mas o seu compromisso de raiz é com ela.


  

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