Zagueiro e a corda bamba 10/03/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
O garoto quando começa a dar chutes na bola -- a de verdade, não as virtuais de joguinho de computador -- foge do gol e da zaga. Duas posições azaradas, em que as falhas sobressaem, nas quais o menor vacilo pode levar o time à derrota e lhes causar desgraça com os amigos.
A meninada prefere o ataque, para se consagrar, ou o meio-campo, porque toca daqui e de lá, e fica sempre no lucro: se fizer lance bonito, recebe aplausos. Se errar, a bronca sobra pra turma lá de trás.
Nos dois episódios marcantes do clássico de ontem, no Pacaembu, Antonio Carlos contribuiu para aumentar o mito da maldição do zagueiro.
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Muito menino que atua na defesa talvez amanhã mesmo peça ao treinador para mudar de função. Vai ser zicado assim lá longe!
Imaginei como deve ter se sentido o Antonio Carlos, e não queria estar no lugar dele. O primeiro vacilo, com menos de dez minutos, acabou com a bola rede, no desvio dele, ao tentar o corte, após o chute de Luciano.
O segundo, na etapa final, outra vez lá estava o grandalhão, firme e atento, para cortar o chute cruzado de Guerrero e viu a danada enganar de novo Rogério Ceni.
Não sei se você reparou, mas Antonio Carlos deu uma espiada tímida, no segundo gol que marcou para o Corinthians. Como se, assim, tirasse a falha da cabeça. Algo do gênero: "Ai, Jesus! Não é possível! Desta vez não fui eu...."
Mas foi. E não tem nada de trágico. Coincidência, perversa e constrangedora, e só. Não se trata de grosseria, colocação errada na área ou pé torto.
Antonio Carlos tem evitado gols e os tem feito, a favor do São Paulo, evidentemente. Episódios que entrarão para o folclore e serão lembrados pelos fãs ardorosos das estatísticas bizarras.
Os gols contra de Antonio Carlos apimentaram um duelo que foi agradável do início ao fim. Se não houve primor de estratégia e de técnica das duas equipes, prevaleceram vontade, aplicação e gols. O público não se sentiu garfado.
O corintiano, claro, saiu preocupado com a classificação, que agora depende também de tropeços do Ituano. O são-paulino curtiu alívio trazido pelos 3 a 2, com o fim de sequência sem vitórias em clássicos com rivais locais.
Mano Menezes apostou em Renato Augusto para o lugar de Jadson, impedido de atuar por acordo entre os cartolas. O meia fez o possível, mas aquém do novo e recente titular. Tanto que saiu para a entrada de Guerrero na segunda parte. O meio-campo alvinegro caiu em criatividade e velocidade.
Compensou com boa marcação, postura estendida para a defesa. O que parecia um mérito se revelou uma arapuca. O Corinthians recuou, depois da vantagem inicial.
Parecia uma volta ao auge dos bons tempos de Tite, com a tática de atrair o adversário e liquidar a história em contragolpes com Romarinho e Luciano, isolados na frente. Não criou praticamente mais chances e ainda viu o São Paulo chegar e ameaçar.
A convicção corintiana começou a ruir com o golaço de Ganso, antes do intervalo. Ah, se esse jovem cometesse tais desatinos a todo momento! Hoje, estaria ao lado do compadre Neymar na seleção. Quem curte futebol deseja ver Ganso arrasar, pois talento não lhe falta.
A empolgação -- e a postura mais firme -- do São Paulo valeu-lhe a virada com Luis Fabiano.
E não é que o centroavante, na miúda, voltou a marcar com regularidade?
São 9 no Paulistão. E, bem interessante, tem reclamado menos que de costume. Produção aliada a autocontrole desemboca em fase de vento a favor.
Maré mansa para Muricy e turma iniciarem outra aventura na Copa do Brasil, num dos raros títulos que o clube não possui. O São Paulo amadurece, mesmo com limitações, mas encontra caminho para evitar tantas decepções como em 2013.
Resta ainda a expectativa de que se saia bem na troca que fez com o Corinthians (Jadson aprovou no Parque São Jorge). Pato terá a primeira chance no jogo com o CSA, no meio da semana. Hora de ver se a mudança de ares lhe fez bem. Ou se manterá a cantilena anterior.