A cultura da liberdade aplicada ao humor 17/03/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Em sua coluna de hoje na Folha, Luiz Felipe Pondé retoma o tema da censura no humor, usando o caso do Porta dos Fundos.
O filósofo argumenta que esse clima foi criado pela crescente ditadura do politicamente correto, disseminada por aqueles que, no passado, diziam-se defensores da liberdade. Não eram.
Os ex-guerrilheiros combateram o regime militar, mas eram tão ou mais autoritários que os militares. Muitos sonhavam com a tirania comunista, com o regime cubano.
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Hoje no poder, tanto político como cultural, essa gente ajudou a parir um ambiente asfixiante para a liberdade de expressão, em nome da proteção das “vítimas sociais”.
O problema é, acima de tudo, cultural, como aponta Pondé:
"Liberdade de expressão implica riscos. E não se responde a liberdade que nos incomoda pedindo R$ 1 milhão por insulto.
Mas o Brasil está virando uma ditadura light e só não vê quem não quer.
Os ignorantes ainda não perceberam que a destruição da liberdade é muito mais eficaz quando é levada a cabo pela “cultura” e não pelas armas.
Foi isso que os 'totalitários do bem' perceberam e estão pondo em prática."
[...]
O politicamente correto é uma cultura descarada do medo e não uma preocupação com a justiça. O Brasil não tem cultura de liberdade. É autoritário à esquerda e à direita.
Esse poder de censura pode ser usado por cristãos também, injuriados com o humor feito com Jesus.
É “falta de respeito”, o que vira automaticamente, no Brasil de hoje, caso de polícia.
A trupe do politicamente correto é responsável por isso, ainda que o feitiço possa se voltar contra o feiticeiro também.
Um dos ícones da nossa esquerda radical, Francisco Bosco, chegou ao absurdo de defender em um artigo que a censura deve ser unilateral, ou seja, as piadas podem ofender a “maioria”, mas jamais as “minorias”, e ainda deixou claro que não se tratava de uma maioria ou minoria numérica!
Eles querem o monopólio do humor, como já se arrogam o da virtude.
Pondé resume o que está em jogo aqui, como alhures:
“O Brasil hoje é um país rasgado entre uma cultura liberal, centrada no indivíduo e na valorização da autonomia e autorresponsabilidade, e uma autoritária, centrada no ‘coletivo’ e no culto do ressentimento e da dependência”.
E então, de qual lado o leitor vai ficar? Do lado que defende a ampla liberdade e assume seus riscos, ou do lado daqueles autoritários seletivos, que pretendem controlar o que pode ou não ser dito, de acordo com sua visão de mundo?
PS: Recomendo a leitura de "O Riso", de Henri Bergson, para se compreender melhor o papel social da comicidade.
O filósofo nos lembra que “o riso não pode ser absolutamente justo. Repetimos que ele também não deve ser bondoso. Sua função é intimidar humilhando”.
Quem quiser suprimir toda humilhação no mundo vai acabar abolindo também o próprio riso, e com ele a liberdade.
Foi o que sempre fizeram os autoritários sem senso de humor, inclusive e principalmente os da esquerda.