Os presságios do BC 28/03/2014
- O Estado de S.Paulo
Diante dos maus presságios do Banco Central (BC) sobre a economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff poderá escolher entre duas soluções.
A mais simples e mais de acordo com seu padrão de governo será chamar uma benzedeira. A outra, um pouco mais trabalhosa e bem mais ortodoxa, será mudar a política econômica.
Em qualquer caso será conveniente rezar para os resultados aparecerem num prazo bem curto.
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Segundo as novas projeções do BC, a economia crescerá menos que no ano passado, a inflação será maior e as contas externas continuarão em mau estado.
As novas estimativas aparecem no Relatório de Inflação, um estudo trimestral sobre as condições econômicas do País e sobre o cenário externo.
Os cálculos agora apontam uma expansão de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB), em 2014, e uma alta de preços de 6,1% neste ano, 5,5% em 2015 e 5,4% no primeiro trimestre de 2016.
Se os números se confirmarem, dentro de dois anos a inflação oficial ainda estará bem longe da meta, de 4,5%.
A cada novo relatório a convergência para a meta é empurrada para mais tarde.
Tudo se passa como se a taxa de 4,5%, já muito alta pelos padrões internacionais, fosse um objetivo meramente retórico, jamais levado a sério pelas autoridades.
Esse adiamento poderia fazer sentido, se uma inflação nesse nível pudesse favorecer o crescimento econômico.
A experiência, tanto brasileira quanto internacional, nem de longe sustenta essa hipótese.
Se os fatos confirmarem a nova projeção do BC, a presidente Dilma Rousseff contabilizará em quatro anos de mandato um crescimento econômico médio de 2% ao ano, muito abaixo dos padrões dos países emergentes.
Até há pouco, as previsões do BC indicavam para este ano uma expansão de 2,3%, igual à de 2013.
Mas os números ficam mais feios quando se examinam os detalhes da projeção.
O melhor desempenho ainda será o da agropecuária (3,5%), embora muito menor que o do ano passado (7%).
O crescimento da produção industrial passará de 1,3% em 2013 para 1,5%.
Mas essa pequena melhora dependerá em boa parte da mera recuperação da indústria extrativa mineral -- um avanço de 4% depois de um recuo de 2,8% no ano passado.
O setor de transformação, em outros tempos o mais dinâmico e o líder da inovação no Brasil, deverá produzir apenas 0,5% mais que em 2013.
Será um desempenho miserável, depois de uma contração em 2012 e de um crescimento de 1,9% no ano passado.
Na construção civil haverá uma desaceleração de 1,9% para 1,1%, apesar dos planos de infraestrutura e do programa de moradias, aparentemente levados pouco a sério pelo pessoal do BC.
A indústria de produção e distribuição de eletricidade, gás e água deverá melhorar, com a expansão passando de 2,9% em 2013 para 3,7%.
O terceiro grande setor, o de serviços, avançará 2,2%, pouco mais que no ano passado (2%).
Mas essa ainda é, no Brasil, uma área muito menos moderna e menos produtiva que nas economias mais avançadas e já na chamada fase pós-industrial.
Do lado da demanda, o consumo das famílias deve ser um pouco menos dinâmico que no ano passado, com expansão de apenas 2%.
O consumo do governo continuará prosperando e deverá avançar 2,1% (1,9% em 2013). O investimento em capital fixo, isto é, em máquinas, equipamentos, edificações e obras de infraestrutura, poderá aumentar 1%.
No ano passado cresceu 6% e mesmo assim o País ainda investiu menos de 20% do PIB, uma taxa muito distante da meta oficial -- ainda modesta -- de 24%.
As novas projeções para as contas externas haviam sido publicadas no começo da semana.
O BC elevou de US$ 78 bilhões para US$ 80 bilhões o déficit estimado para a conta corrente do balanço de pagamentos e cortou de US$ 10 bilhões para US$ 8 bilhões o superávit comercial.
O mau estado das contas externas está ligado principalmente ao fraco desempenho da indústria no comércio exterior.
A piora das previsões do BC é compatível com os números divulgados pelas várias fontes oficiais e privadas.
Refletem a baixa qualidade da política econômica e a teimosia da presidente e de sua equipe. Até quando?