A nudez do reizinho que forçou a internação da Petrobras na UTI 01/04/2014
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
Especialista em jogo sujo, Lula aproveitou a reunião com empresários do Paraná para golpear Eduardo Campos abaixo da linha da cintura.
“A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um desconhecido, que se apresente muito bem, jovem e nós vimos o que deu”, disse o palanque ambulante em 14 de março, agora empenhado em reduzir o candidato à Presidência pelo PSB numa versão pernambucana de Fernando Collor.
Uma semana antes, Campos ressalvara que as críticas que faz a Dilma Rousseff não se estendem ao ex-presidente de quem foi ministro de Ciência e Tecnologia.
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O afago foi retribuído com o pontapé desleal.
Como engoliu em silêncio a comparação ofensiva, pode-se deduzir que o governador não sabe com quem está lidando.
Se não acordar a tempo, poderá repetir mesmo equívoco cometido por José Serra no início da campanha de 2010, quando procurou convencer o eleitorado de que Lula e Dilma não são uma coisa só.
O desfecho da disputa atestou que fazer oposição à criatura e, simultaneamente, tratar com reverência o criador é um equívoco desastroso.
Passados quatro anos, os que enxergam mais de um palmo além do nariz sabem que o poste é inseparável de quem o instalou no Planalto.
Sem Lula, não existiria Dilma Rousseff. Sem o chefe supremo, o PT seria um partido nanico. Sem seu único deus, a seita estaria condenada à morte por inanição.
Só a oposição oficial ainda não consegue enxergar no grande farsante o alvo principal.
Sobram em Lula flancos expostos. O que falta é um adversário disposto a atacá-los sem clemência.
Os contragolpes de Campos poderiam começar, por exemplo, pela lembrança de que Collor foi publicamente redimido por Lula, em julho de 2009, de todos os pecados que cometeu, comete e cometerá.
A foto do encontro em Palmeira dos Índios atesta que os inimigos do século passado revogaram o sentimento da honra e se tornaram-se amigos de infância.
Na campanha eleitoral de 1989, o candidato do PT foi submetido ao que considera “o pior dia da vida” pela aparição no horário eleitoral de Collor da ex-namorada Miriam Cordeiro, que o acusou de tentar interromper com um aborto a gestação da filha Lurian.
Nos anos seguintes, Lula referiu-se ao algoz como “aquele canalha ladrão”.
Resolveu virar a página infame para abortar também a CPI que pretendia abrir a caixa-preta da Petrobras.
O apoio do agora senador Fernando Collor ajudou o presidente a esconder o que se passava nas catacumbas da empresa estatal.
Mas o abraço obsceno foi só parte do pagamento.
O preço do acordo foi muito além do simbólico, demonstrou em outubro de 2010.
O ex-presidente despejado do gabinete que desonrou também foi autorizado a instalar o afilhado José Zonis na Diretoria de Operações e Logística da Petrobras Distribuidora.
Com a nomeação do afilhado, pôde dispensar-se de designar prepostos para missões de grosso calibre na maior das estatais. O afilhado está lá para isso.
Eduardo Campos também poderia ter lembrado que os dois nasceram um para o outro.
Escancarado pela grossura explícita, o primitivismo de Lula pode ser visto com nitidez por trás do falso refinamento de Collor.
Denunciado pela arrogância de oligarca, o autoritarismo de Collor é perfeitamente visível por trás do paternalismo populista de Lula.
Em sua essência, ambos são primitivos e autoritários.
Previsivelmente, lutam lado a lado neste março. Estão juntos na ofensiva destinada a matar no berço outra CPI da Petrobras.
Os oposicionistas têm mais uma chance de dar a Lula o tratamento que todo culpado merece.
De novo, ele tenta escapar de um escândalo pelo atalho do silêncio.
É preciso obrigá-lo a recuperar a voz para cobrar-lhe as explicações que não há.
Foi ele quem infiltrou na Petrobras os envolvidos na história malcheirosa da refinaria de Pasadena.
Foi ele quem premiou José Sérgio Gabrielli com a presidência da Petrobras.
Foi ele quem transformou Dilma em ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal.
Foi ele quem ordenou que a refinaria Abreu e Lima fosse construída em parceria com a Venezuela de Hugo Chávez.
Foi ele quem rebaixou a instrumento político a empresa hoje devastada pela necrose administrativa e pela decomposição moral.
Foi Lula quem forçou a internação da Petrobras na UTI.