Vai entender... 02/04/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
O futebol tem tantos mistérios que, se existisse na época do Shakespeare, teria servido para tema de alguma tragédia, daquelas bem papo-cabeça.
Se bem que o nosso anda mais para chanchada da falecida Atlântida.
Um dos enigmas é a recorrência de temas, até dos que contrariam a lógica, mas sempre batem ponto e dizem presente.
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O Palmeiras abre a lista das charadas. Na primeira parte do Paulista, fez campanha perto do impecável; apenas o Santos o superou em pontos.
A equipe montada por Gilson Kleina demonstrou, em diversas ocasiões, que iria disputar a final estadual.
Vá lá que a disputa bairrista não seja parâmetro rigoroso. Ainda assim, Valdivia e companheiros tiveram afinação suficiente para ficar à frente de rivais tradicionais.
Pois bastou a queda diante do Ituano para subirem à tona discussões em torno da qualidade do elenco, para reaparecerem picuinhas políticas e para projeções pessimistas que empurram o time para a crise.
Com direito a pressão adicional no jogo de hoje contra o Vilhena, ao qual não conseguiu eliminar no confronto de ida pela Copa do Brasil.
O time entra acuado no Pacaembu da memória ruim do fim de semana.
O Palestra funciona como excelente bode expiatório. Ok, dá motivos, e não é de hoje.
No entanto, por mais que tenham sido constrangedoras, não se fizeram restrições tão drásticas para Corinthians (nem passou de fase) nem para São Paulo (que nos últimos anos vive seca de títulos quase inédita).
Dois dos componentes do trio de ferro são vistos com mais complacência do que o Palmeiras.
No fundo, a trinca envereda por caminhos pouco animadores para os desafios da temporada.
Por falar em Corinthians, eis que a casa nova dá o que falar.
Nem me refiro aos acidentes fatais, que esses infelizmente não passarão de estatísticas funestas em nossa construção civil.
Os nomes dos pobres operários mortos provocaram segundos de comoção e retornarão para o anonimato.
A dor será para sempre só dos parentes.
O que não se explica, por mais que sejam apresentados gráficos, números e contas rocambolescas, é o preço da obra.
A conta do Itaquerão, afirma seu mentor, gestor, preceptor, patrono Andrés Sanchez, ficará na faixa de R$ 1,15 bilhão.
Isso mesmo, vai passar de um 1 bi de reais! E aparentemente não espanta o conselho alvinegro.
Parece que a planilha foi aceita sem alarde, como se se tratasse de conta de cafezinho.
Ah, mas tem desconto disso e daquilo, que vai fazer com que a parte corintiana da dívida seja de apenas R$ 700 milhões.
Ninharia, a ser paga só com bilheteria.
Para lembrar: a Juventus de Turim construiu estádio semelhante, com capacidade idêntica, por menos de um terço desse valor.
E o lugar é lindo!
Quer mais um pouco de incógnita?
Heverton, que ganhou notoriedade por ser o pivô do rolo que derrubou a Lusa para a Segunda Divisão, anunciou que se aposenta, aos 28 anos e sem nenhum problema físico grave aparente.
O motivo para pendurar as chuteiras seria a opressão que enfrenta pelo episódio. Ele não tem paz desde dezembro.
Como assim? Que coerção é essa? De onde vem? Quais os indícios dela? De que tipo são as cobranças? Quem está interessado em seu silêncio?
São perguntas demais para que se aceite essa saída de cena sem mais nem menos, apenas como um drama pessoal.
Essa é missão para Hercule Poirot, para o inspetor Maigret. Ou para o delegado Espinoza, herói do escritor brasileiro Luiz Alfredo Garciz-Roza. (Vamos prestigiar o autor nacional.) Ou o Ed Mort, do Luiz Fernando Veríssimo.
Mais um caso impenetrável.
Neymar tem sido malhado na Espanha, e há quem coloque em dúvida até se o Barcelona fez bem em contratá-lo.
Johann Cruyff, antigo astro do clube, como jogador e técnico, lidera a turma dos que torcem o nariz para o moço.
Daí é ele quem faz o gol que evita a derrota no clássico com o Atlético de Madrid pela Copa dos Campeões.