A inflação surpreende o BC 12/04/2014
- O Estado de S.Paulo
Derrubar a inflação vai dar mais trabalho do que se imaginava até há pouco tempo e o governo poderia ajudar cuidando melhor de seus gastos.
Esta é a mensagem principal da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), um texto nada surpreendente diante da alta de 0,92% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Nesta altura, é perfeitamente razoável esperar mais um aumento da taxa básica de juros na reunião de maio do comitê.
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Seria arriscado apostar no fim da política de juros iniciada há um ano.
Os principais fatores de pressão inflacionária permanecem, não serão revertidos por iniciativa oficial num ano de eleições e os preços ainda poderão ser afetados nos próximos meses pela alta do dólar.
O aumento da inflação projetada para 2014 foi um dos elementos considerados para o aumento de juros de 10,75% para 11%, na reunião do Copom, no começo do mês.
Pioraram tanto as projeções do Banco Central (BC) como as do mercado, em contraste com o otimismo da equipe do Ministério da Fazenda.
Apesar de oito aumentos da Selic desde abril do ano passado, os preços de bens e serviços continuaram subindo.
A inflação foi mais persistente do que se previa, um fato assinalado várias vezes nos documentos do Copom e mencionado mais uma vez na ata publicada nessa quinta-feira.
Pela nona vez foi preciso elevar a taxa básica.
O texto lembra a defasagem entre as medidas de política monetária e seus efeitos. Mas os dirigentes do BC parecem ter julgado muito fraca a medicação, daí a decisão de reforçar a terapia.
O texto repete os principais fatores inflacionários mencionados em outras atas.
O descompasso entre a demanda e a oferta interna de bens e serviços permanece.
Segundo a ata, a diferença tende a estreitar-se, mas isso dependerá, também de acordo com o documento, da confiança de consumidores e empresários e do sucesso do programa de investimentos em infraestrutura.
Não se discute, na ata, por que os agentes econômicos deveriam tornar-se mais confiantes.
Como fatores positivos, a ata menciona a moderação dos reajustes salariais e a menor expansão do crédito.
Mas o aumento salarial acima dos ganhos de produtividade continua pressionando os custos, admitem os membros do Copom.
Os efeitos dos ganhos salariais sobre a demanda de consumo também parecem evidentes.
Além disso, atas anteriores também mencionaram a moderação do crédito, mas os efeitos dessa mudança, se tiverem ocorrido, foram até agora limitados.
Além disso, o salário real parece ter sido mais afetado nos últimos meses pela própria inflação do que pela resistência patronal nas negociações.
Com diplomático otimismo, os membros do Copom mais uma vez indicaram uma tendência das contas públicas à "neutralidade".
Não se esperam -- esta é a tradução -- novos impactos inflacionários derivados de uma piora da situação fiscal.
Mas a aparente expectativa otimista logo se converte numa quase solicitação de ajuda, com verbos no modo condicional: "A geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas na projeção de inflação, de um lado, contribuiria para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta; de outro, contribuiria para criar uma percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo".
Além disso, superávits primários "próximos da média dos gerados em anos recentes contribuiriam para diminuir o custo do financiamento da dívida pública, com repercussões favoráveis sobre o custo do capital de modo geral".
Isso estimularia o investimento privado no médio e no longo prazos.
Esta é uma excelente mensagem para os empresários acostumados a atribuir ao BC todos os males decorrentes dos juros altos.
Deveriam olhar um pouco mais, e mais criticamente, para a gastança governamental.
Como esperar juros mais baixos e mais compatíveis com o padrão internacional, quando a indisciplina do governo eleva o custo de financiamento de suas contas, impõe ao setor privado uma competição desleal pelos fundos disponíveis e ainda alimenta a inflação, forçando novas altas da taxa básica?