Expectativa de um ano pior 16/04/2014
- O Estado de S.Paulo
O Brasil estará em péssimas condições no fim do ano, se os fatos confirmarem metade das projeções negativas coletadas pelo Banco Central (BC) entre economistas do mercado financeiro e de consultorias na última pesquisa Focus.
Pioraram as previsões de inflação, crescimento industrial, balança comercial e saldo da conta corrente do balanço de pagamentos.
Mas houve pelo menos uma rara melhora: o crescimento estimado para o Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 1,63% na semana anterior para 1,65% no levantamento realizado sexta-feira passada e divulgado nessa segunda-feira.
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Só uma pessoa desesperada festejaria esse minúsculo, quase inexistente, detalhe positivo.
Além disso, quatro semanas antes a projeção indicava um crescimento econômico maior: 1,70%.
Mas também esse resultado seria bem mais pífio que o do ano passado, de 2,3% segundo a primeira estimativa.
As projeções divulgadas no boletim são medianas dos valores apontados por cerca de uma centena de especialistas consultados.
Serão todos mal-humorados?
A inflação agora estimada para o ano, de 6,47%, quase bate no limite da margem de tolerância de 6,5%. Ou bate, com arredondamento.
O governo e o BC haviam prometido para este ano preços mais comportados que os de 2013, quando a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 5,91% e superou a de 2012, de 5,84%.
Continua perfeitamente justificável a pergunta formulada muitas vezes por analistas conhecidos e respeitados: qual a meta real?
Será mesmo 4,5%, como registram os documentos oficiais e repetem os dirigentes do BC, ou será algo na faixa de 5,5% a 6%?
Mesmo se levada a sério pelas autoridades, a meta de 4,5%, é bom lembrar, já seria muito maior que a de países mais dinâmicos que o Brasil.
O aparente pessimismo dos economistas do mercado e das consultorias é bem fundamentado pelos números divulgados até agora por instituições públicas e privadas.
Publicado nessa segunda-feira, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) de abril bateu em 1,19%. Pouco menor que o de março, ainda foi o pior para os meses de abril desde 2004 (1,20%).
Seu principal componente, o Índice de Preços por Atacado (IPA), subiu 1,42%. Foi um resultado melhor que o do mês anterior, de 1,65%, mas ainda muito alto.
Além disso, a alta dos preços ao consumidor passou de 0,70% no mês anterior para 0,88%.
A alta das cotações agrícolas também tem atingido outros países, mas com efeitos inflacionários muito menores.
Na semana passada, economistas e dirigentes do Fundo Monetário Internacional recomendaram novos aumentos da Selic, a taxa básica de juros, para conter a inflação.
A política do BC está na direção correta desde o ano passado, segundo esses economistas, mas os resultados ainda são insuficientes.
Enquanto a inflação avança, o setor produtivo patina.
O aumento de 1,65% projetado para o PIB nem chega a ser medíocre. Mas o cenário da indústria é desastroso. O crescimento previsto foi reduzido de 1,50% na semana anterior para 0,70%.
A estagnação industrial, sensível há vários anos, prejudica a criação de empregos decentes e as demissões no setor cresceram nos últimos dois anos.
O governo ignora a qualidade dos postos de trabalho criados, quando exibe o baixo nível geral de desemprego como uma de suas vitórias. Uma economia como a brasileira, ainda longe de ser uma economia de serviços modernos, depende do setor industrial para a criação de ocupações de qualidade no mínimo razoável.
A estagnação industrial, por falta de investimentos e de condições favoráveis a iniciativas mais ousadas, tem reflexos no comércio exterior.
O saldo previsto para o ano diminuiu de US$ 5 bilhões para US$ 3 bilhões em quatro semanas. Mesmo o resultado de US$ 5 bilhões seria muito baixo para as necessidades brasileiras.
Com o comércio emperrado, o saldo das transações correntes está agora estimado em US$ 77 bilhões.
O investimento direto estrangeiro, projetado em US$ 60 bilhões, será de novo insuficiente para cobrir o buraco.
O País dependerá, de novo, de capitais menos confiáveis.