Antipropaganda 18/04/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Quem acompanha futebol internacional, cada vez mais popular por aqui, está acostumado com o clima de expectativa que se cria nos dias que antecedem a abertura dos respectivos campeonatos locais.
Há curiosidade em torno dos candidatos ao título, o mercado de jogadores traz novidades -- muitas vezes portentosas --, são feitas projeções a respeito de publicidade, público e outras bossas.
Enfim, trata-se de estimular o interesse para os noves, dez meses seguintes.
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A Série A do Brasileiro começa amanhã, pelo 12.º ano consecutivo na fórmula de turno e returno, todos contra todos, fica com a taça a equipe que obtiver maior número de pontos.
Regulamento sem invencionices, simples e prático.
Ainda assim divide opiniões: após uma década e tanto, há os que sonham (e não são poucos) com a volta de composições híbridas, parte no esquema tradicional, parte com as eliminatórias diretas.
O tema será rediscutido; isso é tão certo quanto falar do êxodo do paulistano na Semana Santa e as filas nas estradas.
Mas onde estão os bate-papos sobre o papel que cada integrante da elite vai desempenhar?
Cadê as análises dos elencos?
Quais as principais movimentações de compra, venda e troca?
Anima saber que Emerson Sheik foi para o Botafogo ou que o Corinthians contratou Ferrugem (!), por exemplo?
Uma conferida no noticiário de jornais, sites e tevês basta para constatar que a atenção se concentra em assuntos que não contribuem para despertar a paixão do torcedor, embora infelizmente interfiram na rotina.
Tivemos eleição, por assim dizer, na CBF, na qual a passagem de bastão significa o continuísmo, a perpetuação de métodos administrativos ultrapassados.
O São Paulo também troca de comando, sem mudar a linha política.
Antes a Lusa e depois o Icasa tentaram, na Justiça, vaga na Primeira Divisão e ameaçaram melar também a Série B.
O custo dos Jogos Olímpicos do Rio ultrapassarão os de Londres. E assim por diante...
No meio desse rolo, há a ressaca das finais dos Estaduais, cinco dias atrás, mais rodada de meio de semana da Copa do Brasil e a segunda fase da Libertadores.
Sobrou quase nada para a divulgação do Campeonato Brasileiro, que deveria ser a menina dos olhos do calendário, o momento aguardado com ansiedade.
Não acontece isso, com o agravante de que neste ano teremos o Mundial, o que faz com que a disputa pegue no breu só no segundo semestre.
Quer dizer, retomará curso regular até dezembro, com jornadas encavaladas.
E com diversos elencos alterados, porque entre julho e agosto abre-se a temporada de negócios na Europa, e os endinheirados de lá sempre vêm dar uma bisbilhotada em busca de pechinchas.
Independentemente de baixas futuras, não desponta um time no qual se possa estampar o carimbo de favorito.
Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, não por acaso os remanescentes na Libertadores, têm pretensões justas.
Inter sempre aparece bem cotado, até desapontar.
Os paulistas e os cariocas carregam pontos de interrogação.
Os demais tendem a manter-se como figurantes ou, quando muito, se conformam em não cair.
E assim segue a humanidade nestas bandas.
A antipropaganda é enorme e desanima a falta de perspectiva de revolução -- a única manifestação a balançar a mesmice vem do Bom Senso FC, indevidamente boicotado pelos cartolas.
Mesmo assim, o danado nosso futebol me fascina.
Não menosprezo o que rola de bacana pelo mundo, acompanho os grandes esquadrões.
Porém, emoção, angústia e alegria são sentimentos que apenas clube daqui me provoca.
Mesmo que passe outro ano sem ter nada.
Como é que é?!
Marco Polo Del Nero, o ungido na CBF, em rasgo de sinceridade admitiu erro da entidade em registros de jogadores, mas deixou subentendida isenção do Figueirense no episódio da escalação de um atleta de forma irregular.
Com isso, confirma o acesso para a Série A. A Lusa, em caso com diversas semelhanças, foi rebaixada.