Um petista sem partido 26/04/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
No dia 2 de abril, escrevi aqui que o deputado André Vargas estava começando a ficar com cheiro de Demóstenes Torres.
Os passos, até agora, são os mesmos, embora haja algumas diferenças.
Todos pararam no Senado para ouvir Demóstenes, que negou relações extravagantes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
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O mesmo aconteceu com André Vargas em relação a Alberto Youssef.
Nos dois casos, houve um certo voto de confiança dos pares -- “quem sabe não seja como parece…”.
Em ambos, a realidade se mostrou pior do que as conjecturas.
Demóstenes não renunciou e acabou cassado.
Antes, foi expulso do DEM.
Vargas também resiste.
Anunciou nesta sexta-feira que pediu a sua desfiliação do PT.
Agora é um, com o perdão da graça, petista sem partido…
Acabará cassado -- porque bem poucos sairão em seu socorro.
Desde o começo, o grande temor dos petistas é que Vargas prejudicasse as candidaturas de Alexandre Padilha e de Gleisi Hoffmann aos governos de São Paulo e do Paraná, respectivamente. E, claro!, teme-se também por Dilma.
Padilha, que nunca deixou de estar na dança, acabou no meio do salão.
A conversa interceptada pela PF em que Vargas anuncia ao doleiro que Padilha indicara o diretor da Labogen, Marcus Cezar Ferreira de Moura, foi a gota d’água.
Padilha concedeu uma entrevista coletiva nesta sexta.
Nega tudo, claro!
Diz que não indicou ninguém, apesar da sua proximidade com “Marcão”.
O fato inegável é que um laboratório-fantasma conseguiu atravessar os filtros do Ministério da Saúde e firmar uma parceria com o governo.
Em sua defesa, Padilha afirma que a pasta nunca fez nenhum pagamento ao Labogen.
Pois é…
Só não aconteceu porque a tramoia veio a público, e o processo foi suspenso.
Ou tudo estaria caminhando às mil maravilhas.
O ex-ministro e atual candidato ao governo de São Paulo prometeu processar todos aqueles que o ligarem a Youssef e coisa e tal.
Entendi que se refere a políticos, a gente que circula nesse estranho meio.
Ou estaria se referindo também à imprensa, deixando claro que só aceita notícia positiva a seu respeito?
Acho que não.
Volto a Vargas.
Os passos do deputado, até agora, seguem os de Demóstenes, mas pode haver algumas diferenças.
As relações do ex-senador com Cachoeira, ficou evidenciado, eram suas, não de seu partido.
No caso do petista Vargas, isso ainda não está claro.
Gente que andou conversando com ele diz que sua mágoa e a resistência à renúncia se devem ao fato de que considera trabalhar para o partido, não para si mesmo.
Nesse contexto, a viagem de avião seria só um presentinho a um mero interlocutor.