A presidente da República usou parte do tempo de pronunciamento em cadeia nacional para tratar dos interesses de Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.
A ocasião era a mensagem relativa ao Dia do Trabalho. É aceitável que o governante recorra a discursos oficiais para defender suas políticas, o que seria ainda mais compreensível se não despendesse tantos recursos públicos em propaganda. Mas a presidente engajou-se no debate eleitoral.
Dilma Rousseff atacou adversários com palavras e atos, por exemplo com promessas realizáveis apenas se reeleita. "Anuncio ainda que assumo o compromisso de continuar a política de valorização do salário mínimo", discursou. Tal assunto diz respeito ao próximo governo e ao próximo Congresso.
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A presidente-candidata não se limitou a avançar no governo que ainda será escolhido. Ao recorrer ao passado para lembrar a criação de empregos por "nós", referia-se também, é claro, aos governos Lula e, portanto, ao PT, partidarizando ainda mais o pronunciamento.
Dilma Rousseff disse ter "força para continuar na luta por reformas", entre elas a da política, a dos serviços públicos ou aquelas que permitam conter a corrupção, de escasso progresso sob sua gestão.
Nos poucos meses que lhe restam, não será possível avanço maior. Além de fazer promessas eleitorais, a presidente reagia à torrente de críticas e más notícias que desprestigiam sua administração, da Petrobras à inflação.
Às palavras de propaganda a presidente juntou atos como o anúncio do reajuste do Bolsa Família. Alardeou o reajuste da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, o que na prática evitaria aumento maior da tributação. No entanto, se tal reajuste equivaler aos que vêm sendo adotados, abaixo da inflação, o IR voltará a subir. O anúncio não terá passado, então, de truque publicitário.
O conjunto da peça propagandística veicula mensagem clara, mesmo que inadvertida. Reeleita, Dilma Rousseff daria seguimento a programas que desarranjam as bases do crescimento da economia.
A presidente parece dizer que não há desacertos. Seu tom foi de desqualificação genérica de críticas, de reafirmação assoberbada de que há "crescimento com estabilidade, controle rigoroso da inflação e administração correta das contas públicas". Isso num país no qual o crescimento é o menor em década e meia, de inflação que incomoda dois terços dos brasileiros e de redução continuada da poupança do governo para investir.
Ao empregar de modo indevido um instrumento de comunicação oficial, e de modo agressivo, a presidente em nada colaborou para atenuar o acirramento de ânimos e partidarizou de maneira exacerbada o que deveria ser um meio de esclarecimento e debate públicos.