Marina Silva, o melhor cabo eleitoral do PT 08/05/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Não há coisa mais cretina do que a soberba.
E é pior quando parte de alguém que faz uma espécie de profissão de fé na humildade ou que a exerce com tal voracidade que chega a ser concupiscente.
Eis Marina Silva, a candidata a vice na chapa de Eduardo Campos (PSB) e líder da Rede, o partido inexistente mais arrogante do Ocidente.
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Marina concede uma entrevista à Folha que está na edição desta quinta. E lá está o título da página: “PSDB de Aécio tem o cheiro da derrota no 2º turno”.
Não é um exagero nem uma simplificação. Ela realmente disse isso.
Em que medida é um movimento combinado com Campos?
Não se sabe.
Quando se trata de Marina, nunca se sabe! Parece-me, no entanto, que, desta feita, ela pode estar obedecendo a uma estratégia conjunta -- a tal lógica da diferenciação.
Só para esclarecer: por que falo em soberba?
Em primeiro lugar, porque não me parece que seja a hora de os dois candidatos de oposição resolverem se enfrentar.
Há cinco meses inteiros ainda até a eleição.
Nas condições atuais, Dilma venceria no primeiro turno.
Basta pensar: e se Aécio Neves responde na mesma moeda?
Acontece o quê?
Os petistas aplaudirão o bate-boca de pé.
Essa tontice de Marina tem um quê de desonestidade intelectual e política porque parte da certeza de que aquele que foi atacado não vai responder -- e acho, se querem saber, que não deve mesmo.
Em segundo lugar, Marina é soberba porque parte do princípio de que ninguém ocupa a sua altitude moral e, pois, ela pode ser juíza do processo político e sair por aí a julgar os vivos e os mortos.
A Folha publica um texto sobre a entrevista e há endereço para um vídeo.
Não assisti. Mas suponho que, se Marina tivesse dito algo de relevante -- além do ataque à outra candidatura de oposição --, o jornal teria aproveitado num texto de mais de 5 mil toques.
Se não está ali, é porque não há.
Segundo Marina, Eduardo Campos é diferente de Aécio Neves.
É certo que sim!
Em quê?
Ela exemplifica: ambos divergem sobre maioridade penal.
E isso nem chega a ser exatamente verdadeiro.
A proposta do PSDB mantém a dita-cuja em 18 anos, mas abre a possibilidade de a Justiça considerar exceções no caso de crimes hediondos.
E pronto!
Aí está a diferença.
Marina, ora vejam, expressa o seu entendimento de voto útil, que viola a história:
“O PSDB sabe que já tem o cheiro da derrota no segundo turno. E o PT já aprendeu que a melhor forma de ganhar é contra o PSDB”.
Ela se esquece de que o PSDB venceu duas eleições para a presidência no primeiro turno, e o segundo colocado era um petista -- no caso, Lula!
Até agora, como se sabe, Marina não conseguiu transferir seus votos para Campos, mas ela prefere fazer especulações sobre a viabilidade do outro candidato que disputa o terreno oposicionista.
Em certo sentido, convenham, o pleito difícil de explicar é o do PSB, que se diz oposição a Dilma, mas não a Lula.
De tal sorte a candidatura está ancorada nesse fundamento que o ex-governador de Pernambuco seria obrigado a sair da disputa se o ex-presidente decidisse tomar o lugar de Dilma na chapa.
Campos, está dado, não se opõe a um modo de governar, mas a uma pessoa.
Marina fala ainda como a senhora do progressismo e do avanço social.
Depois verei o vídeo.
No Acre, por exemplo, ela é governo, junto com Tião Viana (PT).
Estou curioso para saber o que ela pensa sobre a exportação de haitianos para São Paulo.
Ela já se importou bastante com bagres para ser tão silente sobre seres humanos, não é?
Ah, sim: segundo fiquei sabendo, em São Paulo, a chefe da Rede tende a apoiar a candidatura de Vladimir Safatle, do PSOL, ao governo do estado.
Aí estão as suas afinidades.
É mesmo uma pessoa diferenciada.
A Folha informa que, antes da entrevista, ela passou beterraba nos lábios porque tem alergia a batom.
O mundo é estranho.
Eu sou alérgico a gergelim.
E ela também nega que tenha falado diretamente com Deus, como andou espalhando por aí o presidente Lula.
O Altíssimo, parece, se manifestou diretamente no seu coração.