Tudo bem. Ou, podia ser pior 23/05/2014
- Carlos Alberto Sardenberg - O GLOBO
Há três linhas de propaganda no governo Dilma. A primeira é de defesa (linha Mantega, do vai tudo bem no Brasil); a segunda é de ataque (dos ministros Mercadante e Gilberto Carvallho, por exemplo, segundo os quais a imprensa e a oposição tentam criar falsas tempestades); e a terceira é uma velha conhecida, a linha do qual é o problema?
Dá para explicar qualquer coisa. Por exemplo: a compra da refinaria de Pasadena foi um bom negócio, como diz o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, ou um mau negócio, como disseram Dilma e Graça Foster, a atual presidente da estatal?
Não importa.
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Se foi bom, então as críticas são ataques eleitoreiros da oposição e da assim chamada grande imprensa. Se foi mau, paciência, pessoal, essas coisas acontecem. Qualquer empresa do mundo comete erros, não é mesmo?
Todas as análises que mostram problemas na gestão da Petrobrás, inclusive as derivadas dos balanços da própria empresa, recebem tripla resposta.
Primeira: a companhia vai muito bem, já tira petróleo do pré-sal, como, aliás, garante a intensa propaganda da estatal.
Segunda: oposição e imprensa disseram que a Petrobrás estava falida e ia quebrar. Não quebrou.
A terceira é o modo de lidar com fatos que não podem ser ignorados, como o grande desastre da refinaria Abreu e Lima: começou custando US$ 2 bilhões e já deveria estar pronta; pois demora mais um pouco e vai sair por US$ 20 bilhões. Pois é, diz o pessoal do governo e do PT, um erro, aconteceu, estamos consertando. Agora, a refinaria vai.
E a, digamos, circunstância de a bilionária obra ter sido liderada por Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal, acusado de desviar dinheiro para partidos do governo?
Bom, de fato, um problema, mas tudo será apurado, inclusive pela CPI governista do Senado.
A linha Mantega tem um truque. Arranjar sempre algum país que está pior. O Brasil está crescendo pouco? Nem tanto, tem uma crise mundial e além disso, a Grécia…
Como esse truque foi perdendo eficácia – pois os países emergentes normais estão, de fato, em situação melhor -- foi preciso arranjar outra comparação. Esta: o Brasil está melhor do que a oposição e a imprensa anunciaram.
Para isso, é preciso carregar no quadro atribuído aos “inimigos do país”. O grande inspirador dessa linha é o próprio Lula.
Ainda ontem, o ministro Gilberto Carvalho dizia que, lendo os jornais, se tem a impressão de que “o Brasil quebra amanhã”. O ministro Mercadante diz que a oposição e a imprensa anunciaram a “tempestade perfeita” -- com recessão, inflação disparada, falta de energia, perda do grau de investimento, juros altos, etc. Também anunciaram, acrescentam, que ia dar tudo errado na Copa.
E nada disso aconteceu, garantem, triunfantes, esses membros do governo e do PT.
Com isso, o pessoal do governo tenta escapar da situação contrária: na verdade, o país mostra um desempenho pior do que o anunciado pelo próprio governo.
Ninguém disse que o Brasil ia acabar ou que racionamento de energia era fatal ou que a Copa não sairia. O que muita gente dizia, e diz, é o que está acontecendo: o país foi jogado numa armadilha de crescimento baixo, com inflação alta e juros na lua.
E o fato é que, no período Dilma, a economia cresce menos do que 2% ao ano, muito abaixo do “4,5% a 5%” alardeados pela própria presidente. A taxa de juros real voltou a ultrapassar os 4% ao ano, o dobro dos 2% previstos pela presidente. E a inflação caminha na casa dos 6%, sempre acima da meta de 4,5%, apesar dos controles de preços. A tarifa de energia está subindo de novo, com o setor metido em desequilíbrio financeiro e gastando toda energia de que dispõe.
E a Petrobrás? Ninguém disse que ia falir, mas que poderia estar melhor do que hoje, se não tivessem ocorrido tantos erros e sabe-se lá o que mais.
E a Copa? Está saindo como muita gente dizia, atrapalhada, cara e com obras incompletas.
Mas o brasileiro, diz o governo, quer a Copa e vai torcer, assim como gosta do Brasil.
Verdade. Mas pode ser como na Copa das Confederações: o público cantou o Hino, vibrou com o time e… vaiou a presidente.
Desemprego
Nisso tudo, o dado do desemprego é crucial. O governo fez do desemprego a 5% uma marca. É o que diz a pesquisa tradicional do IBGE, medindo emprego e renda nas seis principais regiões metropolitanas.
Mas e se o desemprego for de 7%, como diz a Pnad Contínua, outra pesquisa, nacional, do IBGE? A coisa muda. É maior que a taxa dos EUA.
Por isso, essa Pnad Contínua causou tanto desconforto. É difícil responder em qualquer linha.