Uma das principais razões pelas quais países disputam o direito de organizar megaeventos globais é o ganho de imagem e suas consequências econômicas.
Uma das motivações importantes para o Brasil assumir a responsabilidade inédita de organizar a Copa e, dois anos depois, a Olimpíada foi, portanto, mostrar a capacidade do país de enfrentar desafios dessa dimensão.
Mas, até aqui, estamos perdendo o jogo. A visão predominante na imprensa internacional é a de que a organização do Mundial reflete as dificuldades da economia e da sociedade brasileira.
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As conquistas do direito de sediar a Copa (2007) e a Olimpíada (2009) foram influenciadas pela capacidade do Brasil de estabilizar a economia e crescer de forma consistente. Na disputa olímpica também pesou a capacidade do país de se recuperar rapidamente da crise financeira global.
Mas a visão externa é a de que os esforços na organização da Copa do Mundo têm sido prejudicados por atrasos e outros problemas. O maior deles seria a dificuldade de transformar um plano ambicioso, do tamanho do nosso potencial em realidade sustentável.
Os paralelos com a evolução da economia são interessantes. Depois de décadas de instabilidade, o Brasil criou nos anos 1990 a base para a estabilização, consolidada a partir de 2003, o que permitiu crescimento acelerado.
Na medida em que esse ciclo se esgota, ao atingirmos os limites da expansão do emprego e do crédito, o país entra na fase mais complexa de crescer via aumento da produtividade. O problema é que ela não tem aumentado, enquanto se consolidou a percepção de que a inflação está alta e de que os serviços públicos em áreas como segurança, saúde e educação não evoluíram.
São esses fatores que estão gerando mal-estar e ressentimentos, refletidos no desejo de mudanças manifestado pela maioria da população. As dificuldades da Copa são vistas como uma ampla fotografia dos problemas do país.
Até aqui, já na metade do segundo tempo, estamos perdendo o jogo da imagem no exterior, que é a disputa mais importante na Copa. Mas ainda temos condições de empatar e até de ganhar por pouco, terminando bem os estádios, organizando bem os jogos, provendo condições razoáveis de transporte, segurança e acomodação. E, aprendendo as lições da Copa, poderemos nos preparar para vencer a próxima grande partida, os Jogos Olímpicos do Rio -- um empreendimento ainda mais desafiador e complexo.
Que esses eventos sirvam de exemplo da nossa capacidade de efetuar as reformas fundamentais para o Brasil voltar a crescer baseado no aumento da produtividade, da educação e do investimento em capital físico e humano.
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*Henrique Meirelles é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman do Lazard Americas. Ele foi presidente do Banco Central do Brasil de 2003 a 2010 e, antes disso, presidente global do FleetBoston e do BankBoston.