MOBILIZE-SE! 03/06/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Com agressividade e violência retórica, Gilberto Carvalho sai em defesa da ditadura petista por meio de conselhos. Ministro de Dilma defende o golpe do PT com unhas e dentes.
É o fim da picada! Gilberto Carvalho, o segundo homem mais poderoso do PT (só perde para Lula) e secretário-geral da Presidência, é o mais bolivariano dos ministros da presidente Dilma Rousseff.
Nesta segunda, em tom agressivo, ele saiu em defesa do absurdo decreto Decreto 8.243, aquele que institui pela via cartorial a ditadura petista.
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Já escrevi a respeito do assunto. Evidencio lá que Dilma se dá o direito de definir o que é “sociedade civil” -- são os movimentos sociais -- e que, na prática, ela os transforma em instâncias da República não eleitas por ninguém.
Trata-se de uma forma descarada de golpe branco na democracia representativa.
Com esse decreto, os petistas outorgam a si mesmos o poder permanente, eterno, já que a esmagadora maioria desses grupos é ligada ao PT.
Pego no pulo, vendo que parte da sociedade percebeu a manobra, Carvalho decidiu sair no grito e chamou os críticos de “hipócritas”.
Fingindo-se de inocente e leso, tudo o que ele não é, fez a seguinte indagação retórica:
“Como se pode falar em ditadura quando se fala em ampliar o controle da sociedade sobre o governo?”.
Ora, ministro…
Isso é pergunta para enganar trouxas.
O que teremos, isto sim, será um maior controle da “sociedade petista” -- e, portanto, de um partido -- sobre o governo, qualquer que seja ele.
Esse caminho é conhecido pela Venezuela, pela Bolívia, pelo Equador, pela Nicarágua.
Esse caminho, saibam, é conhecido até por Cuba, formalmente ao menos, uma das sociedades mais mobilizadas e mais organizadas do mundo -- mas sempre sob o tacão do Partido Comunista.
Carvalho achou que, se fosse agressivo e malcriado, poderia ter razão.
Mandou bala:
“Só ignorância, má-fé ou desconhecimento histórico e a falta de uma atenção à leitura ao primeiro parágrafo da Constituição pode levar uma pessoa a fazer acusações absurdas como essas, de que estamos usurpando do poder ou que estamos fazendo tentativas bolivarianistas”.
Errado!
Ignorante -- ainda que seja ignorância voluntária, calculada -- é a declaração de Carvalho.
Ele fala em primeiro parágrafo -- suspeito que quisesse dizer “artigo” -- da Constituição?
Então vamos a eles.
O primeiro parágrafo, no sentido propriamente textual, não jurídico, é este:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Onde estão os “conselhos populares” de que trata o decreto presidencial?
O primeiro parágrafo fala, sim, em democracia direta, mas atenção!
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único.
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
O “exercício direto” do “poder do povo” se dá “nos termos desta Constituição”, na forma de “plebiscito, referendo e iniciativa popular”, conforme estabelece o Artigo 14.
A Constituição brasileira não autoriza os “sovietes” de Gilberto Carvalho.
Assim, se existe má-fé nessa história, ela parte de Carvalho e dos petistas.
O decreto de Dilma é grotescamente autoritário.
O Inciso I do Artigo 2º abre as portas do poder para toda e qualquer organização.
Está escrito lá que “sociedade civil” compreende “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”.
Atenção para o truque, leitores!
Tudo o que não é “institucionalizado é não institucionalizado”, certo?
Vocês querem ver eu abarcar cem por cento da humanidade?
Basta que eu me refira a “todos os corintianos e não corintianos” (fatalmente, todas as pessoas do mundo são uma coisa ou outra); a “todos os vegetarianos e não vegetarianos”; a “todos os admiradores do Bolero de Ravel e aos não admiradores”; a “todos os apreciadores de comida japonesa e aos não apreciadores”.
Ora, a seu critério, então, o governo pode escolher um conselheiro de órgãos federais da administração direta e indireta de um “movimento não institucional” qualquer?
Se a Associação dos Amigos de Gilberto Carvalho quisesse, a seu modo, dar pitaco no governo, é claro que ela poderia, certo?
Afinal, tratar-se-ia de um movimento não institucional.
Gilberto Carvalho, com o seu jeito santarrão, sabe ser truculento, mas nunca foi um bom argumentador.
Em defesa de sua tese, lembrou que a ditadura militar criou diversos conselhos.
Ainda que tivessem natureza distinta desses que Dilma pretende instituir, a lembrança não deixa de ser oportuna.
Carvalho está dizendo que chegou a hora de instituir a ditadura petista.