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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A indústria joga na defesa
08/06/2014 - O Estado de S.Paulo

Ao menos um terço das indústrias brasileiras não pretende fazer investimentos neste ano, conforme mostra pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) obtida pelo Estado.

É o pior resultado em três anos -- das cerca de 1.200 empresas consultadas em 2013, por exemplo, não chegavam a 20% as indústrias que preferiam não investir.

Esse desânimo traduz a percepção, no setor produtivo, de que a economia não vai bem o suficiente para justificar apostas de recuperação.


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Ante os seguidos erros do governo, a indústria resolveu jogar na defesa.

A conjuntura explica a desconfiança. As perspectivas de baixo crescimento da economia, aliadas ao custo cada vez mais alto da energia e sua possível escassez, além da lenta recuperação do mercado internacional, desestimulam planos arrojados.

"Os empresários estão fazendo investimento defensivo", disse José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia, responsável pela pesquisa.

Investimento defensivo é aquele feito em inovação, que barateia a produção em lugar de expandi-la, sem perder participação no mercado.

A pesquisa da Fiesp, feita entre fevereiro e abril, mostra que os investimentos em novas tecnologias são os únicos que deverão ter crescimento, calculado em 2,2% em relação a 2013.

Houve recuo em diversos outros indicadores. O maior, de 7,2%, foi verificado na intenção de investimento em máquinas e equipamentos.

Deve haver diminuição também na área de gestão (-1,4%) e de pesquisa e desenvolvimento (-1,9%).

Mesmo as indústrias que decidiram investir não o farão com entusiasmo. Haverá redução de 4,7% no desembolso, que deve atingir R$ 175,1 bilhões.

Será o terceiro ano seguido de queda. No ano passado, o volume chegou a R$ 183,7 bilhões.

Os sinais de desaceleração já são evidentes.

O setor de máquinas, que serve como um barômetro dos investimentos, registrou no primeiro trimestre, em comparação com igual período de 2013, uma queda de 14% no consumo aparente (produção nacional, somada à importação e descontada a exportação).


"Estamos exaustos", disse ao Globo o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.

Para ele, o grande problema é a gastança do Estado brasileiro, que impede a redução dos juros.

"Ter 39 Ministérios é passar um recado de desperdício para todos", afirmou.

Com isso, os investimentos são desestimulados -- prova disso é o Índice de Confiança de Investimentos da Fundação Getúlio Vargas, que teve um recuo de 6,7% em abril, a maior queda desde a grande crise global de 2009.

De 72 setores pesquisados, houve redução da confiança dos empresários em 77% deles, o maior grau de difusão desde abril de 2010.

O impacto desse desânimo no investimento global da economia deverá ser significativo, porque a indústria responde por 55% do total.

Há consultorias que esperavam uma alta de 2% neste ano e agora já calculam que haverá uma queda de até 2%.

Com base na intenção das indústrias, a Fiesp calcula que o investimento global da economia chegará a 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, inferior aos 18,4% do ano passado e também menor do que os 22,4% esperados pelo Plano Brasil Maior, o programa federal de estímulos à produção industrial.

A desidratação da indústria é resultado das estratégias equivocadas do governo federal, cuja política para o setor limita-se a incentivos a determinados setores e a empresas "campeãs nacionais".

Como resultado, o emprego industrial vem apresentando seguidas quedas, e o Brasil sofre para concorrer mesmo em mercados antes cativos, como a Argentina.

Ainda assim, apesar de tamanha evidência de fracasso, a presidente Dilma Rousseff não se constrange em defender o modelo.

"Não fui eleita para colocar o País de joelhos, para acabar com a política industrial do País", disse ela em recente discurso, atribuindo à oposição a intenção de fazer aquilo que ela já fez.


  

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