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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

A dependência do agronegócio
16/06/2014 - O Estado de S.Paulo

No país do pibinho, mais uma vez o sinal mais forte de vitalidade econômica vem do campo, com uma safra de grãos e oleaginosas -- algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, sorgo e trigo -- estimada em 193,57 milhões de toneladas.

Se confirmada, a produção será 2,6% maior que a da temporada 2012-13, quando se colheram 188,66 milhões de toneladas.

O novo recorde vem acompanhado, mais uma vez, de exportações suficientes para compensar a maior parte do déficit acumulado no comércio de manufaturados.


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Neste ano, os exportadores têm encontrado no mercado internacional preços em queda para alguns produtos importantes, como a soja, mas, ainda assim, o agronegócio acumulou de janeiro a maio um superávit de US$ 32,38 bilhões.

Nesse período, o resultado geral do comércio exterior foi um déficit de US$ 4,85 bilhões.

A nova estimativa da safra 2013-14 foi divulgada na terça-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura.

O levantamento anterior, publicado em maio, apontava um total de 191,25 milhões de toneladas.

Em cada ano agrícola os números são atualizados mensalmente, desde as primeiras previsões de plantio até o fim das colheitas, passando pela evolução de cada tipo de lavoura, em cada região.

A atualização é necessária porque vários fatores, como as condições do tempo, a incidência de pragas e doenças e, naturalmente, os tratos culturais, afetam o desenvolvimento das plantas e o rendimento final das culturas.

Neste ano, o rendimento geral das lavouras caiu. A área plantada aumentou 6,2%, mas o aumento da produção deve ficar, segundo a avaliação mais recente, em 2,6%.

A produção por hectare deve crescer 17,7% no Norte-Nordeste e diminuir 4,9% no Centro-Sul, principalmente por causa do tempo desfavorável.

Os dados finais serão conhecidos dentro de alguns meses.

O padrão característico das últimas duas décadas tem sido um aumento muito maior da produção que da área cultivada.

A agricultura vem sendo, há mais de uma década, o setor mais dinâmico, mais produtivo e mais competitivo da economia brasileira.

O mesmo padrão tem sido observado na pecuária comercial.

Essas qualidades estão refletidas no comércio exterior do agronegócio.

Neste ano, até maio, o setor exportou produtos no valor de US$ 39,5 bilhões e acumulou um superávit de US$ 32,38 bilhões.

A receita foi 2,2% menor que a obtida nos mesmos meses do ano passado, principalmente por causa da queda de preços.

O comércio foi liderado, como em anos anteriores, pelos exportadores do complexo soja, com aumento de 18,6% no valor faturado (US$ 15,58 bilhões) e de 23,1% no volume vendido (30,29 milhões de toneladas).

A diferença entre a expansão do volume e a da receita indica a diminuição do preço médio.

Também caíram os preços das carnes, a segunda maior fonte de receita, e do complexo sucroalcooleiro.

As vendas acumuladas em 12 meses, no valor de US$ 99,08 bilhões, foram 0,4% menores que as do período encerrado em maio do ano passado, de US$ 99,5 bilhões.

O saldo diminuiu 1,3% e ficou em US$ 81,94 bilhões.

No mesmo período, o saldo total do comércio exterior ficou em apenas US$ 3,09 bilhões, por causa do mau desempenho da maior parte da indústria.

Boa parte dos ganhos de produtividade conseguidos pelo setor industrial nos anos 90, a partir da abertura do mercado e de esforços de modernização, já foi consumida.

Os investimentos empresariais foram insuficientes na última década.

Faltou inovação, a mão de obra encareceu muito e o setor continuou prejudicado pela má tributação, pela burocracia e pelas deficiências da infraestrutura.

O intervencionismo e os erros de foco da política industrial também pesaram.

O protecionismo e a limitação dos mercados, por falta de acordos com países desenvolvidos, contribuíram para a acomodação e o enfraquecimento da indústria.

Alguns desses problemas, como os de logística, também afetam seriamente o agronegócio.

Esses erros produzem, entre outras consequências, uma excessiva dependência comercial do agronegócio -- um desnecessário fator de risco.


  

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