Os últimos dias do PT no poder: a hipótese otimista e a pessimista 22/06/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O PT realizou a sua convenção nacional ontem e oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Ela vai ganhar? Ela vai perder? Não sei.
Seja como for, estamos assistindo a um capítulo do fim de um ciclo.
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Se o PT tiver mais um mandato, o que espero que não aconteça, vai se arrastar no poder pelos próximos quatro anos, como um cadáver adiado.
Não tem mais nada a oferecer ao país.
Restará torcer para Dilma terminar o mandato sem uma crise de proporções gigantescas.
Acabou! Os petistas não têm mais futuro a oferecer.
E explico o que quero dizer com isso.
Um partido não tem de estabelecer com a sociedade uma relação de doador e donatário de benesses.
Até porque a riqueza que se distribui tem de ser produzida por alguém -- e, por certo, não é pelos partidos, não é mesmo?
Quando afirmo que o petismo não tem mais “futuro” a oferecer, refiro-me à perspectiva de mudanças que possam efetivamente melhorar a vida dos brasileiros no médio e no longo prazos, fazendo deles mais do que pedintes e beneficiários de migalhas.
O repertório do PT se esgotou.
Os programas sociais estão aí, em curso, mas a gestão não sabe como conciliar, em proporções ao menos razoáveis, crescimento econômico, combate à inflação e juros civilizados.
Ao contrário: a realidade se tornou perversa, descompensada: inflação e juros altos para crescimento baixo.
O que restou ao PT?
Justamente a relação viciada de doador e donatário.
Para que esse discurso convença, é preciso demonizar o outro; transformá-lo na fonte de todos os males do Brasil e da política, a exemplo do que se viu, mais uma vez, neste sábado.
A convenção petista, dados os discursos que lá se fizeram -- inclusive o da presidente --, oferece aos brasileiros apenas um debate sobre o passado.
Lula, ele mesmo, foi bastante explícito a respeito.
Convidou os presentes para a dialética do obscurantismo.
Disse ser preciso convencer os eleitores que tinham 7, 8 anos quando o PT chegou ao poder e hoje estão com 19, 20.
Afirmou que é preciso lhes dizer que quão ruim era o país…
Ocorre que só havia país em 2003 porque os tucanos haviam chegado ao poder em 1995 e porque o PT perdeu a guerra contra o Plano Real.
Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha contra os fatores estruturais da hiperinflação.
Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha em favor da privatização, que dotou o país de infraestrutura em setores essenciais.
Quem, em 2002, votava pela primeira vez, aos 16, 17, 18, tinha de 8 a 10 em 1994, quando o plano foi implementado.
A propósito: uma pessoa que nasceu em 1986 era uma criança no ano do Real, está hoje com 28, é um adulto, e não sabe o que é um país com hiperinflação.
E só não sabe porque o PT foi derrotado em 1994 e 1998 e porque teve de jogar fora o seu programa para se eleger em 2002.
A disputa sobre o passado, como a propõe o partido, é essencialmente desonesta; é intelectualmente vigarista, porque define o adversário como um monopolista do mal e se coloca como um monopolista do bem.
“E os adversários do PT? Não fazem o contrário?”
Não. Desconheço quem lastime ou reprove a ampliação de programas sociais que o partido levou adiante no poder.
Podem não ser, e não são, a resposta para todos os males, mas se trata de um ativo que a legenda tem -- e reconhecido por todos.
O PT, no entanto, é incapaz de admitir que é uma realidade derivada da estabilidade econômica contra a qual lutou.
“Fez isso porque era mau?”
Não! Porque, em razão de preconceitos ideológicos, não reconhecia seus instrumentos como válidos.
E estava, obviamente, errado.
Agora o país chegou a um nó que requer mais do que o tatibitate redistributivista do PT.
E a turma não sabe o que fazer. Está ilhada em seus próprios preconceitos e sua falta de alternativa.
Daí que pretenda fortalecer essa fachada de grande doador de benesses, acusando o adversário de verdugo das causas sociais.
Como resta pouco a oferecer no terreno da doação, os petistas repetem a sua propaganda de TV, inventam um passado que não existiu e o colocam como uma sombra a ameaçar o futuro.
Na convenção, em suma, o PT apelou a um passado que não houve para capturar as pessoas para um futuro que, com o PT no poder, jamais haverá.
Não sei se vai funcionar. Caso seja bem-sucedido, depois de uma luta difícil -- o que o obrigará a multiplicar o “promessismo” --, uma coisa é certa: será a última vez.
O PT está por pouco: na hipótese otimista, seis meses. Na pessimista, quatro anos e meio.
E aí o país se liberta de uma formidável teia de mistificação.
Até poderia se cobrir de glórias. Mas, para tanto, teria de ser um defensor incondicional da democracia.
O partido que faz lista negra de jornalistas, no entanto, gosta mesmo é de ditadura.
“Ah, mas não é um ditador!” É só porque não pode, não porque não queira.
PS: Será que aquele comentador de peladas acha este um texto que “espalha o ódio”, escrito para “leitores fanáticos”?