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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

É grátis, mas sai caro
29/06/2014 - Celso Ming - O Estado de S.Paulo

Se uma área de 4.761 km², equivalente a apenas 0,055% do território brasileiro, fosse coberta com placas fotovoltaicas, o Brasil teria energia solar suficiente para suprir seu consumo anual de eletricidade. Ou, de outra forma, a Usina Hidrelétrica de Itaipu geraria o dobro da energia produzida hoje se o seu lago fosse coberto com tais painéis que convertem luz solar em eletricidade.

Os cálculos foram elaborados por Ricardo Ruther, coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC): "Claro que não são propostas nem técnica nem economicamente razoáveis. A principal vantagem da geração fotovoltaica é poder ser distribuída". Ao contrário das fontes eólica e hidráulica, por exemplo, as placas fotovoltaicas podem ser instaladas no local onde a energia será consumida. "Isso não só diminui os custos com transmissão e distribuição, como também reduz as perdas de energia a elas associadas."

O primeiro leilão específico para outorgas de geração de energia solar no Brasil está agendado para 10 de outubro.


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É o tipo de energia que poderia ser gerada domesticamente, com enormes vantagens. Mas seu uso intensivo esbarra em fatores contrários, entre os quais o custo proibitivo das placas fotovoltaicas, como esta Coluna abordou no dia 15. "O cidadão não pode tirar R$ 20 mil do orçamento e esperar 10 anos para recuperar o investimento só com redução da conta de luz", afirma Adriano Moehlecke, coordenador do Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da PUC-RS. Alemanha e Espanha estão entre os países que colocaram à disposição linhas de financiamento com juros favorecidos e prazos de carência esticados para incentivar a adesão da população (veja o gráfico). "Hoje, a Alemanha tem capacidade de geração igual a três Usinas de Itaipu instalada nas casas", diz Ruther.

Embora as placas vendidas hoje no País sejam certificadas pelo Inmetro, não há fabricantes no Brasil, o que desestimula o consumo também por falta de assistência técnica. É um círculo vicioso à procura de quem se disponha a quebrá-lo. Não há consumo porque é caro; o preço não cai porque não há consumo.

Em compensação, cresce o mercado de energia solar térmica, que usa a luz do Sol para aquecer água para chuveiros, piscinas e até para processos industriais. Os custos são significativamente menores em relação à energia fotovoltaica. Para atender uma família de quatro pessoas, sistemas de aquecimento solar custam cerca de R$ 1.700, diz Marcelo Mesquita, secretário executivo do Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Abrava, associação representante do setor. A redução da conta de luz chega a 35%, o que proporciona retorno do investimento em até 2 anos. É uma energia que não paga impostos sobre o consumo.

A Abrava aponta crescimento médio anual de 15% na área instalada com coletores de energia solar térmica no Brasil. O avanço vem sendo impulsionado por incentivos como o adotado pelas prefeituras de Guarulhos (SP) e Capivari (SC), que concedem descontos no IPTU para imóveis dotados de aquecimento solar. Mas poderia ser muito mais.


*COLABOROU DANIELLE VILLELA

  

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