Encerra-se hoje a fase das negociações a respeito de palanques e minutos de propaganda eleitoral, bem como se oficializam todas as candidaturas com vistas ao pleito de outubro. Nem por isso, contudo, o cidadão terá facilidade para localizar nomes e coligações que correspondam a seus anseios.
O tema parece menos adequado à análise político-ideológica tradicional do que à intervenção de especialistas em geometria não euclidiana. Nos universos teorizados por matemáticos como Lobatchevski e Riemann, a soma dos ângulos de um triângulo não é igual a 180 graus, e linhas paralelas podem se encontrar, para além do que ensinavam os manuais escolares.
Com efeito, nas eleições de 2014, as oposições não necessariamente se opõem no plano das disputas estaduais, e a soma dos apoios a um candidato pode ser maior que o total do tempo disponível para propaganda dita gratuita.
PUBLICIDADE
Conforme o caso, o postulante a senador de um partido pode apoiar Dilma Rousseff para a Presidência e um membro da oposição ao PT no pleito estadual; suas intervenções no horário eleitoral haverão de desdobrar-se em fidelidades incompatíveis.
Justificando as contorções de seu partido, o PSB, Eduardo Campos saiu-se com a engenhosa teoria de que expõe na prática sua capacidade de diálogo, surgindo como terceira via entre tucanos e petistas.
A rigor, o diálogo não é fácil mesmo em sua própria aliança. A vice de Campos, Marina Silva, deixou claro seu inconformismo com a coligação entre o PSB e o PSDB de Geraldo Alckmin, em São Paulo.
PSDB que se alia ao PMDB no Rio de Janeiro, até há pouco dilmista, como era o PTB que hoje apoia o tucano Aécio Neves no plano federal, mas não necessariamente se alia ao PSDB em alguns Estados.
Fatores de difícil equacionamento -além do elementar fisiologismo e da inautenticidade das estruturas partidárias-contribuem para esse cenário desnorteante.
Mais do que considerações programáticas ou de sustentação parlamentar futura, a lógica das alianças obedece, por ora, à minutagem do horário gratuito; esta é a principal moeda de troca dos nanicos.
A coincidência de eleições estaduais e presidenciais adiciona particularidades regionais, além do fato de que o oposicionismo federal nem sempre é conveniente ao jogo entre governadores e o Planalto. Isso para nada dizer dos diversos cálculos sobre as chances de sucesso de cada candidato.
Tudo somado, Dilma dispõe de larga vantagem na propaganda eleitoral (46% do tempo), sendo o restante dividido desigualmente entre Aécio (19%), Campos (8%) e os demais. Todo esse tempo, já dá para saber, será pequeno para explicar tantas incoerências.