Saudades da Copa 04/07/2014
- Sérgio Malbergier - Folha de S.Paulo
A Copa ainda nem acabou, mas como deixa saudades. Esses dois dias sem jogos foram de um vazio atroz. A conta é desesperadora: faltam só oito jogos. E isso contando uma partida que não conta, a que define o terceiro e o quarto lugar.
Daqui a dez dias, o mundo vai embora, deixando a vida sem graça e nós com nossos nós. Que pareciam desatar, mas foram apertados de novo. E se a Fifa gerisse o Brasil? Teríamos um país padrão Fifa ou uma Fifa padrão Brasil?
O fato é que esperamos tantos anos para sediar o torneio, enfrentando todo o baixo astral da preparação, e agora que começou esta cara festa, ela já está acabando. Dá vontade de chorar, como nossos jogadores. Outra alegria como essa só daqui a décadas.
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O pior momento da vida do boleiro é o apito final de uma Copa do Mundo. O próximo apito inicial levará quatro anos. E quatro anos na era das conexões super-rápidas são mais tempo do que quatro anos quatro anos atrás.
O mundo anda tão acelerado que de uma Copa para outra tudo muda. Dentro e fora do campo. O jeito de as seleções jogarem evolui rápida e homogeneamente, já que quase todos os jogadores e técnicos atuam na mesma escola, a escola Fanje (futebol de alto nível jogado na Europa).
É uma escola de alto nível técnico, de alto nível físico, de alto nível competitivo e de alto nível salarial. Os jogos das oitavas de final e provavelmente todos daqui por diante mostram um equilíbrio absurdo entre seleções tradicionais como Brasil, Alemanha, Holanda e Argentina e aspirantes como Chile, Argélia, Suíça e Costa Rica.
Não existem mais os grandes favoritos. Com a capacidade física incrível dos jogadores, capazes de correr muito e preencher quase todos os espaços do campo, o espaço foi para o espaço. Times jogam em bloco e em bloqueios.
O Brasil deu azar em ter Felipão como técnico. Com seu humor dilminiano, ele impõe um clima duro, tenso, que, combinado com a pressão enorme do país e do governo em chuteiras, trava a seleção. Até o Neymar, símbolo da nossa grande tradição artística, já fala em ganhar de meio a zero.
Eu prefiro a seleção de 1982, do imortal Telê Santana, com Zico, Sócrates, Falcão, Junior e Leandro, degolada de cabeça erguida em nome do futebol arte. Ah se aquele Mundial tivesse sido aqui. Teríamos levado o caneco e levado o Brasil ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído -- o lugar da arte. Mas ficamos com o futebol resultado, o futebol força, como todos os outros times.
Viramos commoditie até no que éramos artistas. Nesse sentido, fracassamos na nossa Copa. Imagina no Campeonato Brasileiro.