Mais energia para a inflação 05/07/2014
- O Estado de S.Paulo
Mais um sinal de alerta para a inflação acaba de soar no mercado.
Os consumidores, principalmente os de baixa renda, estão mais pessimistas que o pessoal do mercado financeiro e das consultorias quanto à evolução dos preços até o meio do próximo ano.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os consumidores projetam uma inflação de 7,4% para os 12 meses até junho de 2015.
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Para o mesmo período, a mediana das projeções do mercado ficou em 5,91% na pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada na última segunda-feira.
Essa pesquisa é realizada semanalmente com cerca de 100 economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes.
Os cálculos do BC para os 12 meses até o meio do próximo ano apontam uma alta de 5,9% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária.
Como a expectativa é considerada um fator inflacionário pelos especialistas, o ministro da Fazenda e os dirigentes do BC deveriam ficar de prontidão: os donos do julgamento final sobre a alta de preços estão prevendo dias muito ruins.
De fato, nem os dirigentes do BC, responsáveis principais pela política anti-inflacionária, se mostram muito otimistas quanto à evolução de preços e tarifas nos próximos dois anos.
Segundo suas estimativas, o IPCA ainda subirá 5,7% em 2014 e 5,1% nos 12 meses até junho de 2016.
O ritmo continuará, portanto, muito acima dos 4,5% fixados como meta oficial.
Mas o esforço maior, por enquanto, é para impedir a superação, no ano gregoriano, do limite de tolerância, 6,5%.
Esse limite, no entanto, será superado neste mês ou no próximo, segundo projeções de vários especialistas.
O risco se eleva com os novos aumentos da conta de luz.
A Eletropaulo, responsável pelo abastecimento da capital paulista e de 24 municípios da região metropolitana, foi autorizada a cobrar 18,06% a mais dos consumidores residenciais e 19,93% das indústrias.
Como os números de São Paulo têm grande peso na formação do IPCA, o estouro do limite de tolerância se torna quase certo.
Outras 14 distribuidoras foram também autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a aumentar suas tarifas.
O maior reajuste, 35,05%, foi atribuído à Copel, mas a empresa, atendendo o governo do Estado, pediu a suspensão do aumento.
Sobraram três companhias com autorização para aumentos médios superiores ao da Eletropaulo: AES Sul (29,54%), RGE (22,77%) e Vale Paranapanema (19,66%).
Com esses ajustes, parte do impacto antes previsto para 2015 deve ocorrer neste ano.
O efeito teria sido possivelmente menor -- mais diluído no tempo -- se os aumentos de tarifas tivessem ocorrido a partir do ano passado.
Isso teria facilitado o repasse dos custos maiores da energia fornecida pelas centrais térmicas.
Mas a presidente Dilma Rousseff preferiu congelar os preços, em mais um esforço para administrar os índices de inflação.
Com esse mesmo objetivo o governo federal negociou com municípios e Estados o congelamento das tarifas de transporte público.
O controle de preços de combustíveis, com grande custo financeiro para a Petrobrás, é parte da política oficial há mais tempo e foi mantido pelo atual governo.
Nenhum desses truques produz efeitos por muito tempo. Além disso, todos produzem danos importantes.
Prejudicam o fluxo de caixa e a rentabilidade das companhias afetadas, derrubam o valor de suas ações, diminuem sua capacidade de investir e transmitem sinais distorcidos ao mercado -- por exemplo, estimulando na hora errada o consumo de certos bens ou serviços.
Além disso, a manobra resulta muitas vezes em custo para o Tesouro, como no caso das tarifas de eletricidade.
Não se combate a inflação com o controle de preços e a maquiagem dos índices.
Políticas desse tipo apenas adiam as soluções necessárias e agravam os problemas.
Governos sérios controlam a inflação com aumento de juros e outras medidas monetárias e também com austeridade fiscal e incentivos à produção e à expansão da oferta.
Os erros cometidos pelo governo brasileiro nem sequer são originais.