Os seis minutos 11/07/2014
- Luis Fernando Verissimo*
A primeira coisa a fazer, já que o Thiago Silva não poderia jogar, era apresentar o David Luiz ao Dante. Os dois conversariam, talvez num jantarzinho, trocariam confidências e fotos das crianças e combinariam como jogar contra os alemães.
Aparentemente, isso não aconteceu. Quando David Luiz e Dante finalmente se conheceram, se apertaram as mãos ("muito prazer", "muito prazer", "precisamos nos encontrar!"), já estava cinco a zero para a Alemanha.
Outra coisa: houve uma confusão nas convocações. O Felipão chamou o Fred do ano passado, um dos melhores jogadores da Copa das Federações, e quem apareceu foi o Fred deste ano, claramente um impostor.
PUBLICIDADE
Ninguém na comissão técnica se lembrou de checar sua documentação. E o Felipão não poderia saber que tinha convocado o Fred errado.
Faltaram 3. Outro azar: a partida ter terminado em 7 a 1. Até o 7 a 1 foi um desastre, um vexame, um escândalo - tudo que saiu nos jornais. Mas ainda estava dentro dos limites do concebível.
Era cruel, era difícil de engolir, mas era um escore até com precedentes, inclusive na história das Copas.
Mas se os alemães tivessem feito mais três gols, apenas mais três, entraríamos no terreno do fantástico, do inimaginável, da galhofa cósmica.
A única reação possível a um 10 x 1 seria uma grande gargalhada, que nos salvaria do desespero terminal.
Nada mais teria sentido no mundo, portanto nada mais nos afligiria e todos estariam perdoados, inclusive o Felipão e a CBF, absolvidos pelo ridículo. Mas não tivemos nem a bênção de perder de 10.
Desconto. Proponho o seguinte consolo: vamos descontar aqueles seis minutos em que o alemães fizeram quatro gols como uma invasão do sobrenatural. Uma espécie de catatonia coletiva, de origem desconhecida, que paralisou todo o nosso time.
Os quatro gols marcados durante os seis minutos de inconsciência só de um lado, portanto, não valeram.
O escore real, livre de qualquer intervenção extra futebol, foi 3 x 1. Um escore respeitável, com o qual todos poderemos viver.
Final. E Argentina e Alemanha farão a grande final, no domingo. Todos torcendo pela América contra a Europa, nossos irmãos continentais contra os nossos algozes, nossos colonizados contra os senhores do mundo etc.