Governo quer intervir mais no futebol: agora é que não ganhamos nem da seleção do Butão! 11/07/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
“Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia.” - Milton Friedman
Parece piada. Mas no Brasil as coisas são assim mesmo: você começa duvidando, achando que é uma brincadeira, e depois recolhe o queixo no chão ao descobrir que falavam a sério.
Foi minha sensação ao ler no Estadão que Aldo Rebelo, o ministro dos Esportes, acha que é papel do estado cuidar do futebol brasileiro.
PUBLICIDADE
Se há um “esporte” nacional que tem ainda mais fãs do que o futebol, é a estatolatria, a arte de delegar tudo ao estado, visto sempre de forma idealizada, como um ente formado por santos clarividentes, abnegados e onipotentes.
Há um problema?
Então a solução é uma nova lei, ou mais intervenção estatal.
Isso é uma doença, uma patologia nacional.
A “lição” que o ministro comunista tirou da goleada foi essa: faltou estado!
Nada a ver com a falta de treinos, com o estilo “paternalista” do técnico, com a negligência, a esperança acima do trabalho árduo, a escalação equivocada, etc.
O problema é que o estado não estava tomando conta da coisa!
Qual o próximo passo?
Criar o programa “Mais Jogadores” e importar atletas cubanos?
Curiosamente, o estado alemão não se mete na seleção do país, mas isso não a impediu de meter a humilhante goleada na nossa.
Outra curiosidade bastante irônica: todas as áreas em que o Brasil é lanterna mundial são justamente aquelas com mais controle estatal, como educação, saúde, infraestrutura e segurança.
Coincidência?
Aldo quer rever até mesmo essa coisa de “exportar” jogadores:
”Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de trabalho de menores. Somos exportadores de matéria prima e somos importadores de produto acabado”.
Ora, ministro da foice e do martelo, isso se deve aos incentivos em jogo!
Os atletas migram para onde há melhores condições de carreira.
Assim como há o “brain drain” quando se trata de atividades intelectuais, com os melhores cérebros atraídos pelas universidades de ponta dos países desenvolvidos, há também o “body drain”, quando atletas são convidados para jogar em países cujo ambiente esportivo é melhor.
Sabe qual a solução, ministro?
Melhorar as condições internas!
E sabe como se faz isso?
Dica: não passa por mais intervenção estatal ou medidas “protecionistas”, que apenas retirariam as liberdades básicas dos jogadores; e sim pela redução de tantos obstáculos criados pelo próprio governo!
De certa forma, o nosso futebol é um microcosmo de nosso país: tomado por bandidos, cartolas, incompetentes, com raras exceções.
O jeitinho e a malandragem imperam, e falta profissionalismo.
Acreditar que a estatização vai resolver isso é realmente tão absurdo, mas tão absurdo, que só poderia sair da caixola de alguém que ainda pertence a um partido que tem comunista no nome, em pleno século 21!
Por favor, ministro, vamos aprender realmente alguma lição com isso tudo.
Chega de “soluções mágicas”, de sensacionalismo, demagogia, intervencionismo estatal.
Essa mania de querer controlar tudo de cima para baixo é bizarra.
Está na hora de valorizar mais a liberdade.
Incluir até o futebol no discurso nacionalista, para justificar intervenções estatais com base no argumento de “interesse nacional” e “setor estratégico”, seria hilário, não fosse trágico.
Se o estado realmente se intrometer no assunto, aí é que não ganharemos mais nada. Nem da seleção do Butão!