Crônica esportiva brasileira, com raras exceções, é tão velha, decadente e viciada como a CBF 12/07/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O PT é realmente uma máquina de destroçar reputações -- inclusive de seus aliados.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi quem menos sonhou, entre os governistas, com uma intervenção, digamos, “política” no futebol.
No máximo, ele afirmou que o Estado deveria se interessar mais pela questão, sem especificar em que medida isso poderia acontecer.
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Não disse nada além de uma generalidade até cabível para a hora.
Foram os petistas, estes sim, por intermédio de um site oficioso chamado “Muda Mais” -- trata-se de uma franja do PT, empenhada na campanha de Dilma -- que saíram por aí a demonizar a CBF, atacando lideranças que estariam há décadas a infelicitar o ludopédio e coisa e tal…
O movimento nem é novo.
Quando José Maria Marin, com seu cabelo acaju, assumiu a CBF, logo foi “enquadrado” pela Comissão da Verdade, vocês devem se lembrar.
Muitos chegaram a indagar se Dilma, uma ex-VAR-Palmares, aceitaria posar a seu lado numa solenidade.
Como se posar ao lado de uma ex-VAR-Palmares fosse um valor meritório em si.
Alguém acha que é?
Apresente-se para o debate, por favor, com argumentos.
Tentarei responder sem precisar apelar a cadáveres -- só em último caso…
Mas sigamos.
Não foi Aldo, não!
Foi o PT que tentou criar um novo polo de debate, deslocando o foco para a CBF, depois de Dilma ter tentado pegar carona, de modo um tanto atrapalhado, na Copa do Mundo.
A Soberana, ultimamente, anda a ouvir vozes estranhas, não é mesmo?
Não faz tempo, ela comprou uma confusão danada, quando seus “especialistas” lhe sugeriram que procurasse tirar o corpo fora da compra da refinaria de Pasadena…
Até então, o único que insistia nesse assunto na chamada grande imprensa -- e isso está documentado -- era eu.
Quando a presidente teve a gloriosa ideia de dizer que fora enganada pela diretoria da Petrobras, o assunto pegou fogo.
Coisa de gênio!!!
Mais uma vez, um de seus luminares deve ter tido uma ideia luminosa:
“Presidente, livre-se daquela foto do ‘É TÓIS’ lançando a tese de que é preciso intervir na CBF”.
O assunto prosperou.
Intervir como?
Em que medida?
A resposta de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, veio rápida e certeira, como deve ser.
Sim, algo tem de ser feito para aumentar a responsabilidade de dirigentes esportivos, mas sem criar a “Futebras”.
Até porque, e isto ainda não ganhou seu devido peso político, é preciso chamar o governo às suas reais responsabilidades: a Copa já acabou!
Cadê as abras que tanto mudariam a vida do povo brasileiro?
Pois é…
Ou por outra: o governo que conseguiu afundar a Petrobras acha que pode fazer decolar a Futebras?
Comprando mais briga
Cronistas esportivos os mais variados resolveram entrar na onda petistófila.
Como já escrevi, é muito fácil jogar caca na CBF. Ela fica bem no papel de Geni.
Mas me digam: o que a eventual corrupção na confederação tem a ver com aquele resultado ridículo apresentando em campo?
Nada!
Até porque é possível ser corrupto e eficiente.
É possível ser corrupto e ineficiente.
É possível ser decente e ineficiente.
É possível ser decente e eficiente -- esta, sim, a combinação desejável.
Ganhamos, por acaso, cinco Copas até aqui com uma equipe que misturava São Francisco de Assis com Schopenhauer?
Ah, tenham a paciência!
Parte dessa crônica esportiva, doidinha para fazer parte de algum conselho estatal que supervisione a CBF, embarcou na mixuruquice intelectual da “Futebras” e saiu por aí a procurar bodes expiatórios.
Não há nenhum!
A CBF pode até ser um antro de bandidos, como querem alguns, mas qual é o peso real que isso tem na caipirice do nosso futebol?
O jornalismo esportivo, com raras exceções, é o primeiro dos Jecas-Tatus a rejeitar, por exemplo, a contratação de um técnico estrangeiro.
Volto ao Planalto
O governo mediu a repercussão de sua especulação intervencionista e percebeu que, mais uma vez, a coisa tinha dado errado.
Na Folha de hoje, já se lê que “Dilma afasta hipótese de intervenção no futebol”, como se ela dispusesse de canais legais para intervir -- e não dispõe --, jogando a batata quente no colo de Aldo Rebelo, coitado!, que acabou arcando com o peso da tentação intervencionista.
Lá ficou pelo meio do caminho mais uma trapalhada dos “especialistas” de Dilma em opinião pública.
O mesmo cara que a aconselhou a tirar, um dia antes do desastre, aquela foto fazendo, com os bracinhos, o “T” do “É TÓIS” deve ter tido outra ideia genial:
“Vamos, agora, propor a reforma da CBF”.
Aécio veio e cravou na testa: “Futebras”.
A soberana resolveu logo mudar de assunto.
Os únicos que se entusiasmaram foram mesmos aqueles, como direi?, cronistas esportivos que, há 35 anos mais ou menos, têm uma pauta fixa: atacar a CBF.
Não que ela não mereça ser atacada.
Merece!
Mas merece também ter críticos novos, e não os candidatos de sempre a burocratas da “Futebras”.
Atenção, veículos de comunicação!
Renovem, pelo amor de Deus, a crônica esportiva!!!
Com raras exceções, ela é mais velha, viciada e viciosa do que a própria CBF.
Aliás, são dois atrasos que se estreitam, como diria o poeta, num abraço insano.
Ah, sim: caso alguém se sinta, como direi?, ultrajado por essas palavras, é só se apresentar para o debate.
Passei a ter especial interesse em debater com ultrajados e ultrajantes, mas sempre ultrajando com rigor.