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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Democracia é mais do que futebol. Ou: O estado é laico no campo também
15/07/2014 - Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com

Sei que futebol é mais do que “apenas um esporte” no Brasil. É a “paixão nacional”, a marca de nossa identidade como povo, o tecido social que une diferentes classes em prol de uma mesma paixão. Mas confesso ficar incomodado quando vejo que ele ganha proporções demasiadas por aqui, assumindo o controle da vida de muita gente.

Em nosso país, a verdade é que o futebol parece uma religião, e a predominante. Nada contra no âmbito individual: cada um faz o que quer com a própria vida e escolhe os próprios deuses para cultuar. O risco, claro, é a exploração disso por parte dos governantes, dos oportunistas de plantão.

O iluminismo conseguiu, em parte, separar o estado da religião, criando o estado laico. Alguns podem alegar, com razão, que o pêndulo exagerou para o outro lado e, hoje, muitos acham que isso significa um estado antirreligioso. Mas o fato é que foi uma conquista liberal traçar uma linha divisória entre fé divina e coisas públicas.


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Se isso é mesmo verdade, e se estou certo na premissa de que o futebol é como uma religião por aqui, então parece óbvio que precisamos estender a laicidade estatal aos estádios. A tentação de abusar desse “pão & circo” será grande demais para os governantes, especialmente os populistas.

Vide a própria Dilma e seu ministro falando em aumentar a intervenção estatal no futebol. Vide o uso político dos colunistas esportivos como os da ESPN Brasil, que fazem proselitismo ideológico e campanha partidária o tempo todo explorando a paixão popular pelo esporte.

Esse foi o tema da coluna de João Pereira Coutinho hoje na Folha. O colunista português achou um exagero o uso das expressões para definir a nossa derrota: “humilhação”, “massacre”, “tragédia”. O que mais o chocou foi a reação de David Luiz, literalmente arrasado por não poder dar ao povo sofrido ao menos essa alegria no campo. Diz Coutinho:

E regresso a David Luiz: em lágrimas e com candura extrema, o zagueiro só desejava dar alegria ao seu povo. Pelo menos, no futebol.

Errado, rapaz: não é você quem tem obrigação de dar alegria ao povo. Muito menos de carregar sobre os ombros, como acontece em regimes ditatoriais, os caprichos de qualquer governo.

O futebol ajudou a definir a identidade do Brasil. Mas, no século 21, uma democracia plena é mais que futebol: é educação, saúde, prosperidade econômica, liberdade individual.

Se os brasileiros têm motivos para chorar, esses motivos estão fora dos estádios.


Minha torcida por nosso futebol vai até onde eu começo a crer que ele está afetando negativamente as outras coisas, que julgo mais importantes. Quer dizer que se o Brasil tivesse sido o campeão estaria tudo uma maravilha, o povo estaria feliz da vida, e essa alegria contagiaria o restante, fazendo as pessoas esquecerem seus verdadeiros problemas? Haveria então mais chance de Dilma ser reeleita? Sobre isso, escrevi ontem em minha página do Facebook:

As duas maiores altas da bolsa hoje: Eletrobras (+4,9%) e Petrobras (+4,5%). Vazou alguma pesquisa eleitoral mostrando queda acentuada de Dilma após derrota humilhante na Copa?

Se for isso, devo um pedido de desculpas a uma parcela grande dos meus leitores, que criticou minha tentativa de separar política e futebol para torcer pela seleção.

Talvez o Brasil não esteja mesmo preparado para tal avanço civilizatório.

Tanto que a turma de lá, do PT, fez de tudo antes para se apropriar do “sucesso” da Copa e da seleção, e agora tenta sair de fininho após a humilhante derrota.

Se o 7×1 da Alemanha ajudar mesmo a retirar o PT do poder, eu vou sempre CELEBRAR essa vitória avassaladora.

Vou até comprar uma camisa oficial com as cores do Mengão para recordar com louvor aquele dia. Mas ainda é cedo para dizer. Aguardemos no local…


Pois é: aguardemos. Se o Brasil mostrar que o estado ainda não é laico, que não passamos por nosso iluminismo, que não está separado da religião das chuteiras, e que os resultados futebolísticos exercem grande influência nas urnas, então lamento, mas vou sempre colocá-lo muito abaixo da política.

Pois uma coisa é ter uma alegria passageira com a vitória da seleção; outra, bem diferente, é ter a tristeza permanente de uma péssima qualidade de vida, com extrema insegurança, escolas e hospitais públicos terríveis, transporte público caótico, etc.

A prioridade é avançar com nossa democracia e garantir nossas liberdades, ambas as coisas ameaçadas pelo projeto lulopetista de poder. O futebol deveria estar completamente separado da política. Enquanto a tentação autoritária do poder político de usar o futebol como expressão nacionalista extrema existir, e o povo não mostrar maturidade para separar as coisas, então serei incapaz de torcer por nosso futebol.

Viva a Alemanha! Xô, Dilma!


  

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