O reservista 23/07/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Meu amigo, acompanhou a apresentação de Dunga como treinador da seleção? Parecia reunião de Alto Comando de Guerra a anunciar, para a nação, medidas drásticas para período duro e de batalhas.
Gilmar, Marin, Del Nero, Gallo e o próprio Dunga tinham ar sisudo, de preocupação, mediam as palavras - em diversos momentos gaguejaram. Até os sorrisos eram amarelos. Credo, deu medo olhar praquela turma. Por pouco não fiquei em posição de sentido.
Dunga agia como reservista convocado para emergência. Sabe como é: grande medo da maioria dos rapazes liberados do serviço militar está na possibilidade de um dia o país se meter em encrenca internacional grave e eles serem chamados para a luta. Não tem como cair fora, só com reza ou pistolão.
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Felizmente, somos gente de paz, do bem, não queremos confusão com vizinhança, tocamos nossa vida, etc e tal. Exceto no futebol, onde se sucedem os confrontos épicos. Ou ao menos assim cartolas encaram compromissos dos times em competições de porte, sobretudo a seleção, que representa o Brasil, a pátria de chuteiras e a lenga-lenga que conhecemos de cor e salteado.
A visão belicista da turma que manda na bola explica o retorno de Dunga, quatro anos após de ter sido defenestrado do cargo por fracassar no Mundial da África e ver na imprensa inimigo a abater. O capitão do tetra, com vocação pra sargento, estava por aí, na reserva, e foi outra vez promovido a comandante.
Como soldado disciplinado, bateu continência e afinou o discurso com o dos superiores. Assim como em 2006, quando foi inventado na função pelo ex da CBF, se encheu de brios, alertou para a preferência por jogadores comprometidos com o projeto, prometeu planejamento, garantiu que não vai se preocupar com questões pessoais, pois o objetivo, o foco, reside apenas, exclusivamente, na seleção. Enfim, prometeu trabalho, dedicação, honestidade e avisou que não venderá sonhos.
Conversa à altura dos patrões e do padrinho Gilmar Rinaldi. Ou seja, tom nacionalista, vago e mais pra palestra de autoajuda do que para papo boleiro.
Falou muito pouco -- e quase não lhe perguntaram -- sobre a maneira como pretende montar a equipe, que sistema lhe agrada, o que fará de diferente em relação à passagem anterior, qual o perfil técnico e tático ideal do atleta para ser chamado, como será a interação com Gallo, qual será a contribuição para modernizar o futebol, e assim por diante. Muita superficialidade.
Dunga elogiou o empenho coletivo, a necessidade de múltiplas funções em campo - o que, na verdade, é bê-á-bá para todo professor com mínimo de bom senso e tirocínio. Mas não abordou, por exemplo, o tratamento a ser dispensado a Neymar. Com Mano e Felipão, foi o centro de referência nos últimos quatro anos. E agora, continuará?
Critiquei a volta de Dunga, por ser mais do mesmo, ação entre amigos, falta de rumo da CBF, escudo adequado e à mão para tirar o foco do vazio de ideias de Marin/Del Nero para reformular o futebol daqui.
Tenho reservas de como será o relacionamento com jornalistas, embora acenasse com trégua já no início da entrevista, em que foi afagado aqui e ali.
O intimorato Silvio Barsetti, do Estado, foi dos poucos a saírem do lugar-comum nas questões para a Junta.
Dunga não precisa ser amigo de jornalista; basta respeito mútuo, e estará de bom tamanho. A equação é simples: elogios e reconhecimento, se o trabalho se mostrar arejado, leve e eficiente. Críticas, quando cabíveis. Sem patriotada, adesismo, ou atitude chapa-branca -- desserviços ao leitor. Também sem perseguição, campanha contra ou prevenção. Será um bom exercício de tolerância.
E que Deus nos ajude.
Como, Senhor?!
Ah, com essa CBF é difícil...
Quem manda?
André Santos apanhou, após surra que o Fla sofreu do Inter. Na volta aos treinos, foi informado de que seria demitido. À tarde, a direção desmentiu, sem muita convicção. Ao agir de maneira dúbia, ela só incentiva torcedores violentos.