Promessas vãs 30/07/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Alexandre Pato mal completou seis meses de São Paulo e já parece carta fora do baralho nos planos de Muricy Ramalho, que só o escala em último caso. Algo semelhante com o que havia ocorrido no Corinthians, que em janeiro do ano passado o repatriara por 40 milhões de reais e, depois de temporada apagada, no início deste ano o emprestou ao rival até 2015.
Dinheiro gasto foi alto, para os padrões domésticos, porém abaixo do que o Milan investira no talento revelado pelo Inter em 2007, época em que despontou como promissor centroavante, bom de dribles e gols.
Pato vai completar 25 anos em setembro -- período em que atletas com alto potencial fixaram nome, ganharam fama e entram na etapa principal da carreira.
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Não é o caso. Ao contrário, à medida que passa o tempo, mais se aproxima de integrar a robusta classe dos que poderiam ter sido e jamais foram, dos projetos de fora de série que pararam no meio do caminho.
Pato não é caso isolado. Rápida olhada na história recente do futebol brasileiro basta para encontrar exemplos que se lhe assemelham, em maior ou menor grau.
Carlos Alberto, hoje no Botafogo, já rodou mundo e não vingou em nenhum lugar.
Keirrison apareceu como astro no Coritiba, depois Palmeiras até andar pra cá e pra lá. Alguém lembra do Kerlon foquinha?
O que será de Leandro Damião, por quem o Santos também gastou um dinheiro lascado? E de PH Ganso? Adriano ficou sempre no vai, não vai, na prática se aposentou há uns cinco anos, embora ainda acredite que possa voltar.
Até Robinho pode ser colocado nesse elenco. Temo por Bernard, o da alegria nas pernas, e que fez mal em ir para a Ucrânia. E muitos outros mais.
Os motivos para promessas vãs são vários. Há o temperamento, pois nem sempre o moço segura o rojão da fama e da responsabilidade. Sai cedo de casa, ainda sem se firmar na profissão e já na condição de gênio. Ganha uma grana alta, cai na badalação e se acomoda.
Entra a pressa de clubes e investidores (praga cada vez mais difundida no esporte) de fazer dinheiro tão logo notem o surgimento de um garoto bom de bola.
Não é incomum uma passadinha pela seleção, estágio que valoriza o passe... Muitos se contundem com frequência e diversos jogam menos de quanto a propaganda fez supor.
O coringa vira mico, do qual as equipes tentam livrar-se. Se tem um bom agente, consegue vender a ideia de que, agora sim é pra valer, desta vez vocês verão como ele explode, o rapaz está tinindo, o problema era o treinador que não gostava dele, o ambiente prejudicou, está maduro e com vontade.
Enfim, sobram argumentos. Explora-se a fama inicial até onde for possível.
Pato seguirá semelhante trajetória? Não sei, mas tenho dúvidas desde que o Milan abriu mão dele, e quando namorava a filha do dono! De qualquer modo, terá outra chance, hoje contra o Bragantino, pela Copa do Brasil.
Bate-bola
* Por falar em desencanto, inevitável a ruptura de Ronaldinho Gaúcho com o Atlético-MG. Um fez bem para o outro, sobretudo no título da Libertadores de 2013, mas a relação esgotou. Ronaldinho não jogou nada em 2014.
* O Palmeiras enfrenta a Fiorentina hoje à noite pela recém-inventada Copa EuroAmericana, evento que faz parte do centenário. Se não ganhar nem essa taça, passará o aniversário de mãos vazias. Chato.
* O governo anuncia que o transporte público funcionará até mais tarde em jogos às 22 horas em São Paulo. A pressão partiu do Corinthians e o benefício se estenderá aos demais times. O sensato era antecipar as partidas para as 21. Mas alguém acreditava nessa possibilidade, que contraria outros interesses?
* Cada um conhece onde lhe aperta o calo. Por isso, fica difícil opinar. Mas, creio, seria adequado Felipão dar um tempo, descansar, esfriar a cabeça depois do estrago com a seleção no Mundial. Em vez disso, aceitou convite para dirigir o Grêmio. Talvez entenda que seja a melhor terapia para esquecer do desastre.