Pra lá de Fugujima 31/07/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Na sabatina de que participou na Confederação Nacional da Indústria, a presidente Dilma Rousseff voltou a atacar o que chamou de “surtos de pessimismo”, afirmando, para certo espanto geral, que uma das marcas de sua gestão foi ter “resgatado a política industrial, superando preconceito dos que, durante muito tempo, disseram que o Brasil não precisava de política industrial”.
Huuummm…
Quais são exatamente as medidas do governo Dilma que podem ser consideradas uma “política industrial”?
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A rigor, com uma administração um pouquinho mais competente das políticas monetária e cambial e com outras prioridades, nem seria necessário ter uma “política industrial”.
A fala da presidente Dilma indica que o governo perdeu a capacidade de enxergar o que vem adiante.
Administram-se dificuldades contingentes, com incentivos aqui, desonerações ali…
Não é, obviamente, política industrial.
Na verdade, não chega a ser nem política econômica.
A presidente falou coisas que afrontam escandalosamente a verdade.
Referindo-se à crise de 2008, afirmou a nossa soberana:
“Preparamos a base para a retomada do crescimento. Não desorganizamos a economia, como se fazia no passado. Não recorremos sistematicamente ao FMI”.
Ah, presidente!
Esse tipo de conversa pode funcionar para outro público; pode servir para a retórica palanqueira…
Mas na CNI?
O partido que votou contra o Plano Real e recorreu ao STF contra a Lei de Responsabilidade Fiscal vem dizer que “não desorganizamos a economia como no passado”?
E não custa lembrar: o país só recorreu ao FMI em 2002 por causa do risco PT.
O mercado levava o partido a sério e acreditava que ele iria fazer o que prometia.
Ou por outra: apostou que o PT fosse intelectualmente honesto e praticasse o que pregava.
Felizmente, os petistas não acreditavam no seu próprio credo.
Num dado momento de sua exposição, Dilma se atrapalhou toda -- veja/reveja "boato" das 13:00: subtraiu 4 de 13 e encontrou 7. Corrigiu-se em seguida e chegou a 9.
Tentou falar do furacão Katrina, mas se atrapalhou e se referiu “àquilo” -- cujo nome não se lembrava (era o tsunami) -- que aconteceu, segundo ela, em "Fugujima", seja lá onde fique essa cidade.
Ninguém entendeu nada.
Mas, creiam, não foi o momento mais confuso de sua exposição.
Foi apenas o mais engraçado.
Dilma participava da sabatina no dia em que veio a público a informação de que a economia americana cresceu acima da expectativa.
No horizonte de curto prazo, estão a elevação dos juros americanos e a possível fuga do Brasil de investimentos de curto e de médio prazo.
Na terça, o FMI anteviu que essa é uma das precondições que podem jogar a economia brasileira numa nova crise.
Guido Mantega tentou desancar o FMI.
Os fatos pendem para o lado do Fundo.
O que Dilma tem a dizer a respeito?
Na década de 70, Caetano lançou a música “Qualquer Coisa”, em que se ouve: “Você tá pra lá de Teerã”…