O real legado da Copa 05/08/2014
- Luiz Zanin - O Estado de S.Paulo
Depois do 0 x 0 entre Corinthians e Coritiba, o técnico Mano Menezes saiu-se com a melhor frase do fim de semana (ou a pior, de acordo com o ponto de vista). Disse Mano que precisamos parar de pensar na Copa do Mundo, caso contrário todos os jogos parecerão horríveis.
Não, ele não se preocupou em explicar como dois times da Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro podem apresentar "espetáculo" tão tedioso quanto aquele visto no domingo. Aliás, o termo espetáculo está mal colocado. Não houve espetáculo. Houve futebol mal jogado, sem técnica, sem arte, sem emoção. Os que foram ao jogo perderam tempo. Os que ficaram diante da televisão, também.
E tudo o que Mano encontra para dizer é isso: que precisamos parar com as comparações com um patamar mais alto, porque senão tudo vai nos parecer uma droga. Ora, e não é isso mesmo que, com honrosas exceções, estamos vendo em campo? Por que o medo da comparação?
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Para mim, este é o verdadeiro legado da Copa: vimos por aqui, ao vivo e em cores, um futebol vibrante, de encher os olhos, com muitas (não todas) partidas eletrizantes, daqueles que não nos deixam sequer pegar um copo d'água na geladeira por medo de perder alguma jogada fundamental.
Ora, nos jogos do nosso campeonato podemos perfeitamente nos entreter com outras coisas, como pegar um cafezinho ou uma cerveja, conversar com amigos, navegar na internet, postar um comentário jocoso no Twitter, sem qualquer receio de perder um lance. Ou um golzinho que seja.
Em partidas como as deste fim de semana, os lances dignos de nota são raríssimos, praticamente inexistentes. Ora é o zagueiro que vai tirar uma bola, o taco entorta, como se diz na sinuca, e ela vai parar na bandeirinha do escanteio. Ora é o atacante de R$ 42 milhões que tem medo de chutar de esquerda e perde o gol na cara do goleiro.
Cansamos de futebol tosco. Ficamos mal acostumados. Sabemos que não podemos ter por aqui Neymar, Messi, Robben, Di María ou James Rodríguez. Estão todos nos clubes de alto faturamento e não há o que fazer a curto (ou médio ou talvez longo) prazo para minimizar os efeitos do poder econômico. Mas podemos ter pelo menos jogadores medianos e, se possível, bem treinados. Ou é pedir muito?
Depois da catastrófica participação brasileira na Copa, ficamos esperando pela utopia de uma revolução no futebol brasileiro. Utópica, porém improvável, em virtude dos homens que comandam esse esporte no Brasil. As provas de que não pretendem mudar nada já foram dadas com a contratação de Dunga & Cia. Então cabe a nós, e à torcida, exercermos o único poder de que dispomos: o de crítica.
Basta de passar a mão na cabeça de jogadores de baixo nível, treinadores incompetentes e desatualizados, clubes mal administrados e campeonatos mal geridos. Vivemos anos e anos sob a mística do pentacampeonato, de que aqui era um nascedouro inesgotável de craques e fomos nos acomodando a um criminoso modelo exportador de talentos. Ficamos descansando na poltrona, preguiçosamente, enquanto as raposas tomavam conta do galinheiro e faziam seu serviço. Ouvimos cartolas incompetentes, demos trela a "agentes" e "empresários" de jogadores, achamos folclórico jogar em campos que parecem pastos. E depois nos espantamos com o baixíssimo nível das partidas. Como se isso viesse do nada. Ou tivesse acontecido de uma hora para outra.
Então é isso. Ficamos exigentes. Queremos um futebol melhor. E precisamos cobrá-lo dos cartolas, mas também dos próprios jogadores e dos treinadores, que ganham salários altíssimos, exceções à realidade do País, e mesmo assim apresentam resultados pífios. Fossem funcionários de alguma empresa séria, e já teriam recebido bilhete azul diante do que têm apresentado ao público. É preciso mudar.