Prostração na indústria 06/08/2014
- Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, terça-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) confirmou as estatísticas desoladoras do setor que já tinham sido adiantadas, na sexta-feira, pelo IBGE.
Em junho, os indicadores industriais de produção, faturamento, utilização da capacidade instalada e emprego estão embicando para baixo, pelo quarto mês seguido (veja os gráficos abaixo).
Repetir compulsivamente, como hoje faz o governo, que isso acontece apenas em consequência da baixa atividade das economias maduras, da temporada atípica da Copa do Mundo ou, ainda, que a crise da Argentina não ajuda é fazer pouco-caso da indústria e da inteligência dos brasileiros.
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A indústria vai mal porque as escolhas de política econômica foram as que estão aí. O câmbio não ajuda porque está sendo operado pelo Banco Central (BC) para combater a inflação e não para alinhar preços internos e externos.
A inflação está perto da goleada de 7% ao ano porque o governo gasta mais do que pode e, em seguida, submete as contas públicas a truques contábeis destinados a disfarçar o mau desempenho.
Os juros também trabalham contra a indústria porque, a partir de meados de 2011, o Banco Central optou por uma política monetária frouxa e injetou dinheiro demais na economia.
Essa lambança obrigou o BC a compensar com uma puxada dos juros básicos a partir de abril de 2013, para o nível que hoje é de 11,0% ao ano, o que, por sua vez, deixou proibitivo o custo do crédito.
Não basta repetir que a indústria perde competitividade todos os dias sem reconhecer as causas dessa vulnerabilidade e sem tratar de enfrentá-las. É preciso admitir que isso acontece pelos mesmos motivos apontados acima e outros mais.
Porque, por exemplo, esta mesma política econômica provocou a deterioração do ambiente de negócios e represou preços e tarifas, também para, artificialmente, evitar uma escalada da inflação.
A indústria está perdendo mercado externo porque o governo não faz acordos comerciais e transformou o Mercosul em clube bolivariano, além de não conseguir manter as regras do jogo.
O setor vai capengando porque tem de enfrentar custos crescentes, uma infraestrutura cara e ruim e uma concorrência braba, não só da China, mas de um punhado de países cujos custos de mão de obra são uma fração dos nossos.
Também não dá para esconder que muitos desses problemas aconteceram porque os dirigentes da indústria aplaudiram as políticas imediatistas que beneficiaram alguns setores em detrimento de outros, apoiaram as reduções tributárias temporárias e as desonerações de efeito ao mesmo tempo inócuo e predatório.
Preferiram aceitar os cala-bocas de sempre a fazer um esforço de convencimento para que o jogo virasse, para que a política econômica fosse mais consistente.
Não se esforçaram para que isso que o governo chama de política industrial deixasse de ser puramente uma ação entre compadres ou tentativas de fortalecimento de escolhidos para serem os futuros campeões nacionais.
A presidente Dilma repetirá que essa paisagem é outra dessas deformações espalhadas pelo mesmo cordão de pessimistas. E, no entanto, é o que mostram os números do PIB, da inflação e as tabelas que dão conta do desempenho da indústria.