Cadê o ar da Graça? 06/08/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
A esta altura, está claro que a farsa armada na CPI da Petrobras no Senado, que envolveu parlamentares do PT, o governo e o comando da Petrobras, constitui uma grave agressão à democracia, ao Poder Legislativo e ao estado de direito.
Tenham clara uma coisa, leitores: da forma como se deu a tramoia, estamos diante de algo inédito.
O PT desce a um novo patamar da degradação institucional a que submete o país há 12 anos.
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A direção do Senado mandou abrir uma sindicância para apurar o caso.
Ontem, terça, surgiram novas evidências de que o comando da operação esteve mesmo no Palácio do Planalto, mais especificamente aos cuidados de dois assessores diretos do ministro Ricardo Barzoini, da Secretaria de Relações Institucionais: Luiz Azevedo e Paulo Argenta.
Tudo conforme denunciou reportagem da VEJA, que veio a público no sábado.
Graça Foster, presidente da Petrobras, uma das beneficiárias da tramoia e em cujo gabinete se deu uma das reuniões que cuidaram da farsa, está muda.
E impressionam tanto o discurso como o comportamento indecente dos petistas.
Contra todas as evidências, contra os fatos, o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, chamou a denúncia de “ajuntamento de tolices” e afirmou ser “absolutamente natural que haja trocas de informações institucionais entre as assessorias da CPI e as lideranças dos partidos”.
Trata-se apenas de uma mentira.
O que se viu não foram “trocas de informações”, mas fornecimento prévio das perguntas, com gabarito e tudo.
José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso e relator da CPI, repetiu a conversa mole da Petrobras e afirmou que as perguntas já estavam no plano de trabalho da CPI e eram públicas.
Infelizmente para a decência do Senado, isso também é mentira.
Mas ninguém, ninguém mesmo!, ofendeu o Congresso com tanta determinação como o governador da Bahia, Jaques Wagner, também petista.
Um dos investigados na CPI é José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e hoje seu secretário.
Segundo Wagner, a “CPI é cena. Não é um delegado perguntando. É um monte de deputado que sabe que está sendo fotografado e filmado e que fazer aquela pergunta-chave”.
Atentando contra uma das prerrogativas do Poder Legislativo, prevista na Constituição, disse ainda o petista:
“Deputado não é treinado para investigar, mas para fazer julgamento político. Quem investiga é a Polícia Federal e Ministério Público, que são treinados para isso”.
Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, também decidiu refletir.
Disse:
“Só haveria farsa se houvesse a impossibilidade de qualquer senador fazer a pergunta que quisesse”.
É um despautério.
O senador fazer a pergunta que quiser é justamente a prerrogativa da qual os farsantes abriram mão.
Observem que ele nem se ocupou de negar a tramoia.
A fala de Wagner não deixa de ser emblemática do que o PT fez com as comissões parlamentares de inquérito nestes 12 anos de poder -- justamente o partido que tanto se beneficiou delas no passado: transformou-as em farsas.
E, a depender de Wagner, serão extintas.
A menos que seja para a legenda se vingar de adversários.
E foi o que fez o PT.
Decidiu se apressar para instalar a CPI do Metrô em São Paulo.
Que gente!
O partido pretende que a mesma maioria empregada para fraudar a CPI da Petrobras seja usada agora para atacar os tucanos.
Em qualquer dos dois casos, não quer investigar nada, mas fazer baixa política.
A propósito, pergunto: a CPI petista vai investigar as evidências de cartel, que estão sendo apuradas até no Cade -- hoje uma repartição da legenda -- na construção dos metrôs de Belo Horizonte e Porto Alegre, ambos tocados por estatais federais, controladas pelo partido?
Encerro com um enigma: o tempo dirá se o PT ainda não vai se arrepender de ter criado essa CPI do Metrô.