É a economia, candidatos 07/08/2014
- Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A novidade da campanha eleitoral deste ano é a de que os debates começaram expondo temas preponderantemente econômicos.
Por enquanto, ativeram-se a públicos fechados, como o de fóruns e sabatinas entre candidatos e empresários, promovidos por instituições da Imprensa e por organismos representativos da Indústria e do Agronegócio.
As posições dos candidatos ainda são um tanto vagas e expostas sem ordem de prioridades.
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Mas já sabemos que a inflação está corroendo demais o poder aquisitivo do trabalhador e a capacidade de previsão nos negócios e que, por isso, exige contra-ataque mais eficiente do que vem tendo.
Há uma percepção generalizada de que avanços tão medíocres do PIB pioram tudo: a arrecadação de impostos, o investimento, o emprego, a qualidade de vida.
Ficou claro que a política cambial não pode continuar a desempenhar uma função imprópria e injustificada, como a de ajudar a controlar a escalada dos preços, como hoje acontece.
A sociedade avisa que os juros têm de cair, porque vêm tornando proibitivos os custos do crédito.
E que, com ou sem tarifaço, os preços administrados (combustíveis, energia elétrica, transportes urbanos) exigem correção e regras claras para que não continuem a criar distorções.
Há consenso em que a infraestrutura é ruim e cara, que o governo não vem conseguindo dar agilidade aos investimentos.
Enfim, que é preciso criar um ambiente mais saudável para a atividade econômica e que o comércio exterior está emperrado e precisa ser destravado.
Em certo sentido, as reivindicações são recorrentes como também o são os compromissos de campanha manifestados pelos candidatos.
Os três principais deles concordam em que não há como escapar das reformas que vêm sendo sistematicamente postergadas.
Mostram-se mais à vontade para falar de reformas do sistema tributário e do sistema político, mas preferem se omitir quanto às das leis trabalhistas e as do sistema previdenciário.
De qualquer maneira, os candidatos não avançaram em como encaminhariam projetos nesse sentido.
A oposição parece mais consciente do que o governo de que não é possível dar um novo salto de qualidade na política econômica e no rumo do desenvolvimento sem que antes se coloquem em ordem as contas públicas e, até mesmo, sem antes obter um mais alentado superávit primário (parcela de arrecadação destinada ao pagamento da dívida), para criar confiança e condições para um crescimento sustentável.
É possível que estes não sejam os temas que mais comparecerão aos programas de propaganda gratuita por rádio e por televisão, que vão começar no dia 19 deste mês, porque podem parecer um tanto áridos na comunicação com as massas, numa campanha eleitoral que trabalha especialmente com as emoções.
Mas indicam que as preocupações de quem decide não se atêm apenas nem prioritariamente a questões de Saúde, Educação, Segurança e Corrupção, como em geral se argumenta, mas aos problemas que, tanto quanto estes ou até mais, mexem com o bolso do eleitor.
Fracasso do Mercosul
Os debates pré-eleitorais acentuaram os problemas comerciais do Brasil que decorrem da falta de negociações e do fracasso do Mercosul.
Ontem, quarta, o ex-ministro Delfim Netto denunciou “o abandono da política comercial”.
E prosseguiu: “Nos amarramos ao Mercosul, que não funciona. Transformamos o Atlântico Sul num cemitério. Abandonamos o comércio exterior como vetor de crescimento”.