Longe de serem mera implicância de "pessimistas", como quer fazer crer a presidente Dilma Rousseff (PT), as análises negativas a respeito da economia derivam da sequência de resultados ruins obtidos pelo governo federal.
Tome-se como a exemplo a última semana. Vieram, primeiro, as notícias sobre a queda de 20,5% na produção automobilística em julho, na comparação com o mesmo período de 2013. Até agora, a retração no ano é de 17,4%.
O setor se rende à realidade de vendas fracas, depois de inúmeras tentativas do governo de adiar o inevitável por meio de estímulos ao crédito e benesses tributárias.
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Levará tempo para o segmento voltar a uma situação normal. Sofrendo as consequências das dificuldades domésticas, as montadoras tampouco conseguem, dado o alto custo de fabricação, inserir seus produtos no mercado internacional –exceção feita à Argentina.
Trata-se do maior testemunho do fracasso da política protecionista dos últimos anos.
Os problemas continuam a se agravar também no setor elétrico. A despeito das negativas do governo acerca de um tarifaço, analistas privados apostam numa alta de até 30% nos próximos dois anos.
A conta de luz vai subir não apenas para bancar o pagamento dos empréstimos concedidos neste ano às distribuidoras, mas também o custo de produção das usinas termelétricas, mais caras.
É digno de nota que, no socorro mais recente às elétricas, 70% do valor emprestado virá de bancos públicos, em mais uma evidência de resistências no ramo privado.
O impacto na tarifa, de todo modo, já existe. A agência reguladora responsável tem autorizado reajustes de até 36% em vários Estados.
Em crise, o setor padece de incerteza regulatória e desincentivo ao investimento. Arrumar a casa será um trabalho longo.
A inflação, por sua vez, continua elevada. Verdade que o índice de julho, quase zero, surpreendeu.
Houve queda importante no custo dos alimentos, que agora começa a chegar ao consumidor depois de meses de deflação no atacado.
E os preços de itens influenciados pela realização da Copa do Mundo no país, como passagens aéreas e hotéis, também caíram.
Isso evitou que a taxa em 12 meses superasse novamente o teto da meta, 6,5%. Mas a inflação permanece preocupante, com os preços de serviços subindo ainda no ritmo de 8,4% ao ano.
No geral, permanece o quadro de estagnação com inflação resistente e grandes incertezas para 2015, o que não favorece a retomada dos investimentos.
O governo parece ter adiado as soluções dos problemas da economia para depois das eleições.
Esta é, em suma, a principal razão para a insegurança.