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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Engenheiros de gente
14/08/2014 - Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com

Autoritários de direita e de esquerda não conseguem conviver com o mais severo e perigoso de todos os deuses -- o Imponderável.

Se é fato, retomo expressão que empreguei ontem, que podemos cercar as margens de erro para obter os resultados ambicionados, não é menos verdade que mais movem a história as circunstâncias que não estão sob nosso controle do que aquelas que podemos escolher.

Ainda que alguns sociopatas imaginem que podem determinar a forma do futuro, este se faz de um emaranhado de sistemas que nos escapam.


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O avião em que viajavam Eduardo Campos e outras seis pessoas foi planejado para não cair. Simulam-se situações de risco às quais a aeronave pode resistir.

Mas fatores os mais diversos -- naturais e humanos -- podem se combinar e pronto! Nada mais será como se apostava antes.

Estamos a menos de dois meses do primeiro turno da eleição presidencial, e tudo pode acontecer, inclusive nada de novo no que diz respeito ao prognóstico.

Ainda que a petista Dilma Rousseff venha a vencer a eleição -- segundo apontava o retrato momentâneo até ontem --, será com outra narrativa, que não havia sido imaginada por nenhum roteirista, por mais criativo que fosse.

Parece-me difícil, apesar dos fatores contrários, que não são poucos, que Marina Silva, da Rede, não venha a ocupar o lugar de Eduardo Campos na cabeça da chapa da coligação “Unidos para o Brasil”.

Ainda que as divergências sejam imensas, não se desprezam, assim, com tanta ligeireza alguns milhões de votos -- e ela os tem, isso é inegável.

Não que a presidente Dilma Rousseff, o PT e outros potentados não tenham se movido nos bastidores para tentar inviabilizar a sua candidatura e criar dificuldades para a criação da Rede.

Essas mesmas forças se mexeram, note-se, para facilitar a formação de legendas que hoje servem à base aliada.

Os leitores sabem o que penso sobre Marina Silva. Tenho horror a seu pensamento -- ou seja como se chamem as coisas que ela diz.

Mas as manobras de bastidores para barrar a sua postulação são bastante conhecidas e asquerosas.

Vale dizer: os que se querem donos da história e do futuro decidiram operar com determinação para eliminar os adversários -- fez-se de tudo, não custa notar, para impedir a candidatura do próprio Eduardo Campos.

Vejam que coisa: estivesse Marina com a sua “Rede”, teria um tempo ínfimo na televisão, e o PSB, a esta altura, ungiria um nome apenas para não ficar fora da disputa.

Os feiticeiros devem olhar para a realidade agora cheios de perplexidade.

É grande a chance de Marina ser candidata à Presidência com uma força que, sozinha, certamente não teria.

A ex-senadora, por sua vez, é sabido, é melhor de voto e de “mídia” do que de articulação política.

Campos era o grande organizador do PSB e sua maior figura. De tal sorte seu comando era unipessoal que não deixa nem sequer um candidato a herdeiro.

A aproximação de setores importantes do partido com a candidatura do tucano Aécio Neves é uma possibilidade mais do que evidente.

Os “engenheiros do futuro” do PT comemoravam as dificuldades eleitorais de Campos, que não eram pequenas, e contavam com o início do horário eleitoral gratuito para tentar liquidar a fatura ainda no primeiro turno.

A possibilidade me parecia remota, mas os petistas estavam bastante confiantes.

Se Marina for mesmo a candidata do PSB, o PT precisa ser muito otimista para apostar nessa possibilidade.

Mais: Marina atrai com mais facilidade votos que, no que concerne aos valores ao menos, estão à esquerda e não se sentiam identificados com Aécio e com Campos.

Acabariam, por inércia, caindo no colo de Dilma; agora, surge uma alternativa.

Pode haver um estresse também nas hostes tucanas?

É claro que sim. Só disputa o segundo turno quem passa pelo primeiro, e é evidente que se justifica certo temor no PSDB de que Marina fique com a segunda vaga -- e, nessa perspectiva, seu adversário imediato é Aécio. Vamos ver.

Mas o destino também colhe Marina de calças curtas.

Como candidata a vice e representante da Rede na aliança, ela podia forçar a mão em favor do seus pontos de vista, contrastando com o PSB, na certeza de que Campos arbitraria o jogo.

Esse árbitro, agora, desapareceu.

Se for a candidata, passa a falar em nome da coligação, muito especialmente do partido ao qual está formalmente filiada.

Vai se adaptar à nova realidade ou será aquela Marina de 2010, que se sentia mera hospedeira do PV?

Está tudo embaralhado.

Os “engenheiros de gente” erraram mais uma.


  

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