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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Depois de Eduardo
15/08/2014 - O Estado de S.Paulo

Todos perdem com a trágica morte de Eduardo Campos. O Brasil, em primeiro lugar.

Aos 49 anos, completados dias atrás, o economista e candidato presidencial do PSB -- governador de Pernambuco reeleito com 83% dos votos, levado por Lula ao Ministério de Ciência e Tecnologia quando exercia o terceiro mandato de deputado federal, depois de ter sido, sucessivamente, secretário de Governo e da Fazenda na gestão do avô Miguel Arraes no Estado -- era, sem dúvida, o líder mais talentoso, aplicado e experiente de sua geração.

O que seria notável até em um país que, diferentemente deste, não padecesse de crônica carência de políticos e administradores com estatura de estadistas.


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Irrepreensível não era. Pregava uma "nova política" em que os governantes se pejariam de retalhar a máquina pública entre os partidos que os apoiaram, mas não ficou imune ao mal que denunciava.

Apesar de toda a sua capacidade de articular ideias e alianças, com formidável entusiasmo, não conseguia infundir substância à "terceira via" como alternativa ao PT e ao PSDB, que somam 20 anos consecutivos de mando.

Ao dizer que a mudança significaria "dar a seta para a direita, mas ultrapassar pela esquerda", construiu uma frase, não um projeto.

Por fim, certo de que, para se eleger em 2018, teria de se candidatar em 2014, distanciou-se de seu aliado e amigo Lula e rompeu com o governo federal que o ajudou, mediante robustos investimentos, a fazer em Pernambuco uma aclamada administração.

Em um patamar mais raso -- o dos cálculos de momento e das expectativas eleitorais -- também perdem com a catástrofe do Boqueirão os candidatos até aqui mais fortes ao Planalto.

A presidente Dilma Rousseff, porque só se livrará do segundo turno se o PSB, em um surto de demência, resolver se imolar, abandonando o páreo.

E o tucano Aécio Neves, porque deixou de ser líquida e certa a sua presença no tira-teima.

Até Marina Silva, por paradoxal que pareça, também ficou exposta ao espectro da derrota na arena partidária.

Como se recorda, depois de não ter conseguido adesões suficientes para registrar o seu partido Rede Sustentabilidade -- por incompetência e porque os coletores de firmas só faltavam exigir atestado de pureza ideológica dos possíveis signatários --, ela celebrou com a legenda chefiada por Eduardo uma união de conveniência, graças à qual se tornaria sua companheira de chapa.

Da primeira à derradeira hora, porém, a ex-ministra e os marineiros não menos sectários, que formaram uma espécie de sublegenda no PSB, só criaram antipatias e problemas.

Fiador da vice, o candidato era obrigado a toda hora a apagar incêndios que ela e os seus seguidores ateavam às vestes dos companheiros de viagem -- e, pior ainda, às dos setores empresariais cativados pelo ex-governador e presumíveis doadores para a sua campanha.

Fosse Marina uma agente provocadora do PT, não teria feito melhor.

Ainda assim, o partido parece condenado a promovê-la a candidata.

Não se vê como o PSB poderia justificar o veto à figura aureolada que carrega no embornal os quase 20 milhões de votos recebidos na disputa de 2010 e 27 pontos nas recentes simulações eleitorais -- embora já perto do que se supõe seja o seu teto.

Mas tampouco se vê o que a sigla terá a ganhar com a solução dita "natural".

Com Eduardo, o partido sabia que não chegaria este ano à Presidência, mas poderia alcançar a sua principal meta para outubro: duplicar a sua bancada de 24 deputados federais, já a oitava maior da Câmara.

Desde 1998, o partido tem crescido a cada eleição legislativa -- e a tendência tinha tudo para se acentuar.

Com Marina, o PSB ficará à margem. Os votos dela, quantos venham a ser, dela serão.

E a sua prioridade continuará sendo registrar a Rede como partido.

Emparedados, os socialistas talvez adotem um último e inusitado recurso: Marina na vice e Ana Arraes -- a deputada federal que o filho Eduardo ajudou a guindar para o Tribunal de Contas da União -- na cabeça.

Conduzida pela filha do legendário político pernambucano Miguel Arraes, a chapa venceria Dilma pelo menos no Estado, apesar da força de Lula no Nordeste.

Faltaria, evidentemente, combinar com as duas e com a ala da agremiação ainda leal ao Planalto.


  

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