Haja conspiração! 16/08/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Papo repetitivo esse de ver conspiração em tudo. Vá lá que, no nosso dia a dia, estejamos rodeados de mutretas dos mais variados calibres e que englobam de altas decisões nacionais a atividades prosaicas.
Vira pra cá, vira pra lá, topamos com algum arranjo maroto. Por isso, ficamos na defensiva e sempre a achar que há algo escuso por trás de um fato que fuja à rotina.
Pra trocar em miúdo e trazer o assunto pro futebol: encheu a paciência ouvir a conversa de que este ou aquele campeonato está comprado, ou vendido, de que tal ou qual resultado não passa de falcatrua, de que fulano ou sicrano entregou.
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Tudo parece previamente definido e acertado fora das quatro linhas, como certas licitações oficiais fraudulentas que os jornais vira e mexe desmascaram.
O tema do dia se concentra na desclassificação de São Paulo, Fluminense e Internacional na Copa do Brasil.
Na opinião dos farejadores de irregularidades, o trio de gigantes nacionais na maior cara dura largou mão -- ou pé -- do torneio doméstico para garantir vaga na Sul-Americana.
Eles teriam se beneficiado de brecha aberta nos critérios de classificação da CBF para optar pela competição que mais lhes conviesse.
Nessa estratégia se concentraria a explicação para o fiasco diante de Bragantino, América-RN e Ceará, equipes que transitam pela Segunda Divisão.
Assim como você, também não confio em muita gente metida no esporte. Faz bem pra saúde e pra moral manter atitude cética e filtrar o discurso.
A boa fé nos faz parecer bobos, porém alto lá, sem exageros.
Da mesma forma, duvidar demais vira paranoia e leva a conclusões grosseiras, toscas, fúteis.
Lembra da boataria que dava como certa a conquista do hexa?
O Brasil levantaria a taça, em 13 de julho, pois era o combinado.
Teve formador de opinião que garantiu ter provas irrefutáveis da farsa.
Faltou combinar com a Alemanha...
Coloco em idêntico balaio a cantilena a respeito do comportamento de tricolores, paulista e carioca, e colorados gaúchos na quarta-feira.
O trio deu vexame, fez fiasco, parou no meio do caminho de maneira vergonhosa e humilhante. Não teve competência para impor-se e sucumbiu ante adversários franco-atiradores e que se valeram de garra.
Vão para a Sul-Americana?
Ok.
E quem lhes dá a garantia de que atropelarão os gringos?
Ou ignoram o risco de papelão contra argentinos, uruguaios, colombianos, paraguaios?
Burrice e comodismo alegar maracutaia. Se o São Paulo quisesse livrar-se da Copa, perderia na ida para o Bragantino, em vez dos 2 a 1 a seu favor. Também não faria 1 a 0 no Morumbi. Levou a virada de 3 a 1 por erros, individuais (de Rogério Ceni, por exemplo) e coletivos. Jogou mal.
O vacilo do Flu foi ainda mais constrangedor: lascou 3 a 0 em Natal, estava com 2 a 1 no Maracanã até tomar a sova de 5 a 2. Não seria mais inteligente se enrascar já no Rio Grande do Norte? Pra que toda a encenação?
O Inter precisou dobrar-se em Porto Alegre e em Fortaleza.
Os tropeços podem entrar na conta das surpresas que a Copa do Brasil apronta, para o nivelamento do futebol destas bandas, para a fragilidade dos elencos e daí por diante.
Para o torcedor talvez doa menos achar que a derrota foi proposital do que admitir a inaptidão da equipe.
Ilusão tola.
Considero horrível a hipótese de que jogadores e treinadores traíram a confiança do fã que esteve no estádio, ou sofreu em casa, em nome de uma artimanha, de uma bem bolada saída para voo maior.
Se agem assim, supostamente para o bem, quem garante que amanhã não farão corpo mole para prejudicar o clube?
Onde ficam amor próprio e profissionalismo?
Enquanto aturarmos o consenso de que as coisas se resolvem na base da malandragem, seremos coniventes e tapados ao mesmo tempo.
Porque, no fundo, nos tratarão como trouxas, mesmo que tenhamos a sensação de que, de algum jeito, levamos vantagem.
Isso vale para a política, para o trabalho e para o futebol.