Bom para quem? 18/08/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
A Folha de S.Paulo desta segunda traz os números da mais recente pesquisa Datafolha para a corrida presidencial.
Querem saber?
Todos -- Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva -- têm motivos para comemorar um pouco e para se preocupar também.
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Vou dizer por quê.
Segundo os números apurados, se a eleição fosse hoje, Dilma, do PT, teria 36% das intenções de voto, marca idêntica à obtida há um mês, quando o candidato do PSB era Eduardo Campos.
Também o tucano Aécio Neves fica no mesmo lugar: com 20%.
E Marina?
Ela ressurge na disputa com 21%, tecnicamente empatada com o candidato do PSDB -- há um mês, Campos tinha apenas 8%.
Se Dilma e Aécio não perderam votos e se Marina aparece com 13 pontos a mais do que Campos, de onde saiu essa diferença?
Dos brancos/nulos e dos que não tinham candidato.
Há um mês, 13% demonstravam a disposição de não votar em ninguém; agora, são apenas 8%. Os que diziam não saber eram 14%; agora, são 9%.
Os demais candidatos somavam 8%; agora, apenas 5% -- Pastor Everaldo, do PSC, conservou seus 3%.
Conclusão óbvia: Marina, a candidata que mais se identificou com os protestos de rua iniciados em abril do ano passado e que nunca censurou, de modo inequívoco, nem mesmo as manifestações violentas, beneficia-se, vamos dizer assim, do ódio à política e aos políticos.
Ela sempre foi muito hábil em fazer de conta que não é feita do mesmo barro que compõe os mortais da vida pública.
Há mais: fica evidente, como apontei aqui tantas vezes, que ela não transferia votos para Campos.
No segundo turno, a estarem certos os números, há uma novidade importante.
Marina Silva aparece em empate técnico com Dilma, mas numericamente à frente: 47% a 43%.
A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Contra Aécio, a petista lideraria com 47% a 39%, com oito pontos de diferença.
Então vamos pensar um pouco na contramão do que parece óbvio.
A tragédia que colheu Eduardo Campos já atingiu o seu auge. Não há mais como espetacularizar o acontecimento.
O Datafolha ouviu 2.843 pessoas nos dias 14 e 15 de agosto.
O ex-governador de Pernambuco morreu no dia 13. Obviamente, cairá, a partir de agora, o impacto do acontecimento.
Não dá para ignorar que a nova realidade é ruim para Dilma porque está eliminada, agora de modo inequívoco, a possibilidade de ela vencer no primeiro turno: seus adversários somam 46 pontos -- 10 a mais do que os seus 36.
Ela tem ainda a lamentar a rejeição, que segue altíssima: 34% dizem não votar nela de jeito nenhum, índice praticamente igual aos que votam: 36%.
Resta o que a comemorar?
Duas coisas: apesar da avalanche do noticiário, manteve seu patrimônio eleitoral no primeiro turno e se distanciou um pouco de Aécio no segundo.
Também melhorou a avaliação do governo, segundo o Datafolha ao menos: ele é agora considerado ruim ou péssimo por 23% -- há um mês, eram 29%. Dizem ser bom ou ótimo 38% -- contra 32% em julho. Os mesmos 38% o consideram regular.
A exemplo de Dilma, Aécio conservou os pontos que tinha: 20%.
Como a sua candidatura poderia ter sido a mais exposta a prejuízos em razão da entrada de um novo nome no terreno oposicionista, não deixa de ser positivo que tenha mantido o seu eleitorado.
A diferença de oito pontos no segundo turno é ruim quando se compara com os apenas 4 do Datafolha anterior.
No Ibope de há 11 dias, no entanto, era de 6 pontos.
O patamar é o mesmo.
E Marina?
Só recebeu boas notícias da pesquisa?
Não custa lembrar que, no último Datafolha em que o nome dela apareceu, em abril -- antes que ficasse claro que o candidato seria Campos --, ela chegou a marcar 27%.
Vale dizer: nem a tragédia monumental, que lhe garantiu uma visibilidade inédita, com todas as tintas da tragédia e da evidente exploração política, lhe devolveu ao patamar a que já havia chegado.
Aparecer à frente de Dilma no segundo turno, dadas as circunstâncias e considerando o momento em que se faz a pesquisa, me parecia desde sempre plausível.
O horário eleitoral começa amanhã.
Dilma tem um latifúndio: 11min24s contra apenas 4min35s de Aécio e 2min3s de Marina.
Mais: a candidata da Rede -- ora no PSB -- agora terá de falar o que que quer.
Como vice de Campos, ela se limitava a dizer alguns “nãos”.
Vamos ver.
A síntese das sínteses:
1: Dilma e Aécio certamente esperavam notícias piores;
2: Marina certamente esperava notícia ainda melhor;
3: o segundo turno já é uma realidade inescapável;
4: a estarem certos os números do Datafolha, o horário eleitoral começa com uma certa recuperação de prestígio do governo;
5: a rejeição a Dilma continua elevadíssima;
6: Marina e Dilma são certamente mais conhecidas do que Aécio, e o início do horário eleitoral pode ser, relativamente, mais positivo para ele do que para elas;
7: estamos diante da disputa eleitoral de resultado mais incerto desde a redemocratização do Brasil.