PSN: Partido Sem Noção 18/08/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
O velório de Eduardo Campos neste domingo foi um fenômeno estranho, um desafio para o jornalismo.
Tivemos a inovação de “narrador de funeral”, como se fosse um jogo de futebol.
Tivemos o ex-presidente Lula e a presidente Dilma sendo vaiados, o que é sinal da rejeição legítima a ambos, mas sintoma de falta de respeito aos familiares das vítimas enterradas.
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E tivemos, pasmem!, um show de horrores quando várias pessoas resolveram tirar “selfies” com o caixão ao fundo.
Escrevi em minha página do Facebook:
Essa coisa de “selfie” em velório é o fim da humanidade. Depois reclamam e me “acusam” de conservador quando aplaudo Theodore Dalrymple e sua defesa até de uma vestimenta mais rigorosa para demonstrar respeito em tais ocasiões, para mostrar que ir a um enterro não é como ir ali do lado comer uma pizza ou tomar um sorvete. O mundo anda muito estranho…
Podem me chamar de reacionário, conservador, velho ou mesmo obsoleto, mas sou do tempo em que o sujeito colocava um terno e mantinha uma postura de discrição e sobriedade em um local desses, em homenagem ao morto.
A roupa é demonstração de que houve uma preocupação maior, uma preparação diferente de simplesmente descer para comprar pão na esquina.
Mas vivemos na era do Mujica, visto como grande líder pois empossa seus ministros com sandálias e unhas nojentas à mostra.
Se, por um lado, o público deu um espetáculo de mau gosto ao transformar um enterro em uma oportunidade para aparecer, em uma espécie de “micareta”, o Datafolha não fez algo muito diferente.
Produziu uma pesquisa eleitoral exatamente no dia seguinte da morte de Campos!
Seu avião explodiu no dia 13 de agosto, e nos dias 14 e 15 o Datafolha já ouvia 2.843 pessoas em 176 municípios.
O cadáver estava quente ainda!
Hoje só se fala na pesquisa, os envolvidos ajustam suas estratégias, e Marina já está em segundo na corrida, em empate técnico com Aécio Neves.
Mas pergunto: qual o valor de uma pesquisa feita no dia seguinte da morte de Campos, sabendo-se que o brasileiro é um dos povos mais emotivos, imediatistas e influenciáveis do mundo?
Pode até ser que a tendência se confirme, mas é muito cedo para dizer, e se trata de uma pesquisa indecorosa.
É como pegar uma viúva na saída do enterro de seu marido falecido e perguntar: ele era um bom esposo?
A chance de a resposta lhe ser favorável é bem maior do que aguardar um mês para fazer a mesma pergunta, com ela já mais calma e menos afetada, usando um pouco mais a razão.
Os defeitos do homem virão à tona com mais facilidade.
Enfim, o Brasil tem mesmo avacalhado tudo, até enterro e pesquisa eleitoral.
Muito foi dito logo após a trágica notícia do acidente, na linha de que não era hora de falar de política, em respeito aos mortos.
Era só discurso?
Pois o pessoal do PSB, partido de Campos, disse que sofreu investidas do PT, diretamente de Lula, para que desse apoio a Dilma e, com isso, rachasse ao meio o partido.
Do PT a gente espera tudo mesmo, e isso é fichinha perto do que faz o partido para se perpetuar no poder.
Mas é triste quando vemos que o país como um todo caminha na direção de perda de importantes valores civilizatórios.
O que talvez explique o fato de que o PT esteja no poder há 12 anos e com chances reais de permanecer por mais quatro…