Pouco mais do mesmo 21/08/2014
- Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, quarta, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco Central (BC) anunciaram providências destinadas a aumentar e facilitar a segurança no crédito.
Vão na linha das medidas tomadas no dia 25 de julho, que começaram a flexibilizar o depósito compulsório, a parcela do dinheiro dos clientes que os bancos têm de deixar no BC. Procuram acelerar o crédito e, portanto, o consumo e a atividade econômica.
Não deverão ter impacto imediato, por duas razões: primeira, porque os novos recursos hoje disponíveis são relativamente baixos, como a seguir se verá; e, segunda, porque as decisões do Ministério da Fazenda (e não as do Banco Central) dependem de leis e regulamentação suplementar. Afora isso, nos próximos meses não se espera grande entusiasmo do consumidor pela tomada de empréstimos.
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Mas a ideia de desburocratizar e criar novos mecanismos de alavancagem do crédito, especialmente no setor imobiliário e no de veículos, pode facilitar as operações no futuro.
A principal decisão do Banco Central autoriza os bancos a usar mais 10% do que estão obrigados a depositar no BC (depósito compulsório) nas aplicações a prazo dos seus clientes, desde que esses recursos sejam usados para novas operações de crédito ao varejo.Pelos cálculos do próprio Banco Central, mais R$ 10 bilhões serão injetados nesse segmento, além dos R$ 45 bilhões adiantados em julho. É uma insignificância diante do saldo atual do crédito no Brasil, de R$ 2,9 trilhões.
Esta é uma iniciativa com certa dose de contradição. O movimento predominante do Banco Central é de acionamento dos freios, na medida em que a política monetária (política de juros) procura enfraquecer o consumo, a atividade e a inflação, por meio da redução da ração de moeda na economia (juros altos), e não o contrário.
As novas decisões tentam acelerar o consumo e, assim, confundem as expectativas. O mercado, que vive de comunicações claras do BC, vacila em relação à direção pretendida.
O governo (e não só o Banco Central) está pressionado por forças opostas.De um lado, tem de combater a inflação, que dança sobre o precipício. De outro, enfrenta a prostração da economia. E tem dificuldade para fazer suas escolhas. Não basta jurar que “a economia não está patinando” – como, nesta quarta-feira, jurou Mantega, quando os dados apontam para o contrário.
O efeito prático imediato parece baixo. As vendas não estão emperradas por falta de crédito, mas por outras razões. A primeira delas é a erosão no poder aquisitivo provocada pela inflação. A segunda, o excessivo endividamento das famílias. E, a terceira razão, a disseminação da percepção geral de que os tempos estão mais difíceis, de que o emprego está sob risco e de que o orçamento doméstico está mais comprometido, o que induz a um comportamento mais conservador por parte do consumidor.Neste momento, ele resiste a buscar mais crédito.
O baixo fôlego das decisões desta quarta-feira mostra que o arsenal de resposta do governo à paradeira está esgotado. Ficaram para trás os tempos em que o Tesouro tinha farta munição para as tais políticas compensatórias anticíclicas. E o brasileiro parece suficientemente esperto para deixar-se levar apenas pela conversa enroladora das nossas autoridades.