Notável poder desagregador 22/08/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
O saco de gatos de Marina, agora com Erundina na coordenação. Ou: Na democracia, o Brasil só teve dois presidente sem partido -- Jânio Quadros e Fernando Collor.
Arrumem, por favor, um PRN -- sim, refiro-me àquele partido-ônibus inventado por Fernando Collor -- para Marina Silva. Vai que ela seja eleita presidente da República.
No Datafolha, apareceu tecnicamente empatada com Dilma no segundo turno.
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Ontem, quinta, circularam boatos de que há levantamentos em que está na dianteira.
Não é preciso que um ET caia no Brasil para concluir que estamos no hospício ideológico. Um brasileiro razoavelmente informado chegará à mesma conclusão.
O PSB indicou, ora vejam!, a deputada Luíza Erundina (SP) para ser a coordenadora-geral da campanha. Coitada! Não vai coordenar nada.
Fico cá a imaginar o seu semblante quando Marina desatar a falar sobre a democracia pós-partidária, pós-sindical, pós… institucional!
O ex-tucano Walter Feldman, indicado por Marina coordenador-adjunto, concedeu uma entrevista a Morris Kachani, da Folha. O redista disse ao menos três coisas notáveis.
O jornalista quis saber “qual o círculo de pensadores em torno de Marina”.
Feldman respondeu:
“Na economia, Eduardo Giannetti expressa grande parte do que Marina pensa a respeito. E temos o Guilherme Leal, o José Eli da Veiga, o João Paulo Capobianco, Ricardo Young, a Maria Alice Setubal.”
Quem está mais perto de ser um pensador aí é Giannetti. Essa gente toda, incluindo um mega-empresário e a sócia de um banco, então, estará sob a coordenação da socialista -- de verdade! -- Luíza Erundina.
A esta altura, se me disserem que Marina multiplica o pão e os peixes, anda sobre as águas e ressuscita Lázaro, tenderei a acreditar no interlocutor -- tomando o cuidado de esconder objetos pontiagudos da sala e de me manter longe da janela…
Não desconfio de seus dotes para a abdução. Quem se deixa convencer por sua fala não costuma tolerar contestação.
Mas nem ela seria capaz de operar o milagre de conciliar as prefigurações do liberal Giannetti com as da socialista Erundina.
Marina, a exemplo de Collor -- vamos ver se com o mesmo desfecho -- está começando a juntar as pessoas que estão com o saco cheio de “tudo isso que está aí”.
Há os que mais bibliografia e os com menos. Mas a crença em milagres é a mesma.
Feldman disse mais. Indagado sobre as diferenças entre Eduardo Campos e Marina, respondeu:
“Eduardo entendeu as características de Marina e espraiou sua visão para o PSB. As diferenças são mais de origem, ele da classe média pernambucana, ela de origem mais humilde, de outra região.”
Vale dizer: só ele tinha aprendido com ela; ela não tinha aprendido nada com ele.
Mas atenção para a resposta mais intrigante.
O jornalista perguntou o que são os tais “sonháticos”. Leiam o que ele respondeu:
“Dentro da Rede, os sonháticos desfrutam um grande prestígio, a maioria deles são jovens que sempre empurram a discussão para algo mais avançado, que não nos deixa acomodar. Mas tem o dia a dia que tem que ser feito. E, quando Marina optou por Eduardo, parte dos sonháticos a abandonou. Mas agora estão voltando e muito. (…) Diria que 95% voltaram.”
Entenderam? Com a morte de Eduardo, os tais sonháticos de Marina podem se dispensar de lidar com a realidade.
A nova candidata já quebrou a espinha do PSB. Sempre achei que isso fosse acontecer, mas, obviamente, em outras circunstâncias.
Campos fez o que pôde para manter a união porque confiava que ela lhe daria os votos de que precisava para chegar ao segundo turno.
Como todos sabemos, e indicavam as pesquisas, isso não aconteceu.
Se é que existe a tal “Rede”, esta nunca moveu uma palha em favor do então candidato do PSB à Presidência, que estava estacionado entre os 7% e os 9%.
A ex-senadora colaborava com ele?
Como sabem todos os dirigentes do PSB, isso nunca aconteceu. Ao contrário: a aliada era fonte permanente de dor de cabeça.
Logo na estreia, chegou atirando contra um aliado de Campos em Goiás, o deputado Ronaldo Caiado (DEM), que até os adversários admitem ser um homem honrado.
O que Marina tinha contra ele?
Ora, é um produtor rural!
Dois dirigentes do PSB já se afastaram da campanha: Carlos Siqueira, da coordenação-geral, e Milton Coelho, coordenador de mobilização.
A mulher da Rede tem um notável poder desagregador.
Dizer o quê?
Existe a possibilidade real de Marina, sem partido político, eleger-se presidente da República.
Houve dois antes dela: Jânio Quadros -- que era UDN só no papel -- e Fernando Collor, que inventou um saco de gatos chamado PRN.