Marina Silva no JN: o discurso da vitimização 28/08/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Como encanta no Brasil o discurso da vitimização!
Foi o pensamento que tive ao ver a entrevista de Marina Silva ao Jornal Nacional. O sucesso político de Lula já era prova disso.
Agora temos em Marina Silva o novo símbolo da coitada que foi massacrada na vida em sua cruzada pelo bem.
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Eis sua trajetória de vida e no estado do Acre, sua terra natal. E eis a resposta que deu para o incômodo fato de que ficou em terceiro lugar lá nas eleições de 2010, com metade dos votos de José Serra.
Como sair dessa sinuca de bico?
Marina puxou da cartola a imagem da vítima. Os acreanos não votaram nela pois ela feriu muitos grupos locais de interesse!
Qual a lógica exata disso?
Que a maioria dos acreanos é formada pelos grupos de interesse?
Ou que são pessoas manipuláveis e suscetíveis à propaganda enganosa das elites locais?
Isso sem falar que seu marido era dessa mesma elite até ontem!
Sim, o marido de Marina Silva fazia parte do governo de Viana, do grupo que detém o poder há 16 anos no estado.
Fábio Vaz de Lima era secretário adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis, e recebia mensalmente do governo petista R$ 18.232,93.
Se isso não é elite no pobre Acre, então a situação está realmente espetacular nessa pequena Suíça brasileira.
Mas se os fatos não ajudam, há sempre Chico Mendes.
Marina mencionou o seringueiro sindicalista, o que nunca perde a oportunidade de fazer, pois sempre rende alguns votos extras.
Uma heroína da ética combatendo as elites corruptas locais.
Os mártires vendem bem.
Mas o fato continua incômodo: Aécio Neves é bem avaliado em sua Minas Gerais, como Eduardo Campos era em seu Pernambuco.
Marina foi massacrada no Acre.
Motivo: foi boa demais para o povo local. Como é?
William Bonner e Patrícia Poeta fizeram seu papel, apertaram, cobraram sobre a suposta incoerência entre discurso ético e prática.
Bonner abriu a entrevista logo questionando sobre o uso do jatinho que caiu e matou Campos, comprado com o uso de “laranjas”.
Marina alegou não ter tal informação, e defendeu ampla investigação.
Dizer que não sabia de nada e cobrar investigações em público não soa tão novo assim quando algum “malfeito” vem à tona por conta do trabalho da imprensa, não é mesmo?
A imagem de intransigente ou fundamentalista contra o agronegócio e os transgênicos foi negada por Marina Silva.
“Há uma lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade. Sabe o que eu defencia quando era ministra do Meio Ambiente? Um modelo de coexistência: área de transgênico e área livre de transgênico. Infelizmente, no Congresso Nacional, não passou a proposta do modelo de coexistência”, declarou.
Marina Silva como grande defensora do agronegócio, atividade responsável por 40% das nossas exportações (mais de US$ 100 bilhões) e 40% dos nossos empregos?
Quem quiser que acredite.
É do jogo.
Mas se eu fosse um desses 40% confesso que não teria um sono tão tranquilo só porque Marina, agora, diz-se amiga do agronegócio.
Mesmo sem ter nada com o setor eu já tenho alguns pesadelos…