Marina no Jornal Nacional 28/08/2014
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Quem presta atenção ao sentido das palavras percebeu o tamanho do desastre.
Os entrevistadores quiseram saber o óbvio: como se justifica o discurso da “nova política” quando a rede de empresas fantasmas e laranjas que envolve o avião em que viajavam Eduardo Campos e ela própria é a evidência escancarada da velha política?
A candidata, é claro, não conseguiu achar uma resposta porque resposta não há.
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Em nenhum momento, ela admitiu que crimes óbvios foram cometidos. Mais do que isso: tentou desqualificar, ainda que com aquele seu jeitinho simples, de apelo telúrico, o trabalho da imprensa.
Segundo disse, a verdade não virá das reportagens, mas da investigação da Polícia Federal.
Como assim?
Imprensa, de fato, não é a última instância na apuração de crimes. Nesse caso, no entanto, ela já chegou mais longe do que a polícia. As empresas fantasmas e seus laranjas vieram à luz.
Como explicar?
Pior ainda: com um discurso oblíquo, Marina sugeriu que a apuração da verdade pode ser um desrespeito à memória de Eduardo Campos.
Até aí, Marina estava na fase da enrolação, mas ainda não havia atingido o patético.
William Bonner lembrou que ela e seu vice, Beto Albuquerque, divergiram sobre algumas questões essenciais, como as culturas transgênicas e a pesquisa com células tronco embrionárias.
Como posições inconciliáveis se juntam numa chapa? Isso é “nova política”?
Marina, então, se saiu com a cascata de que o jornalista se fixava apenas nas divergências, não nas convergências…
É mesmo?
A contradição óbvia estava no ar.
Então, quando os adversários da candidata fazem composições entre divergentes, estamos diante da evidência da “velha política”; quando é ela própria a fazê-lo, aí se tem a prova da “nova política”?
O que Marina respondeu?
Que os jornalistas estavam equivocados.
Por que estavam?
Ela não disse. Nem tinha o que dizer.
Patrícia Poeta lembrou que, em 2010, Marina ficou em terceiro lugar na eleição em seu Estado, o Acre, que a conhece bem.
Mais uma vez, a candidata tentou acusar a ignorância dos jornalistas: “Talvez você não conheça direito a minha trajetória…”
Ora, quem não sabe?
A agora candidata do PSB saiu-se com uma frase feita: “Ninguém é profeta em sua própria terra…”
Ah, entendi: ela é profeta no resto do Brasil, menos no Acre.
Listou os interesses que teve de contrariar e coisa e tal.
Chegou a sugerir que enfrentou a máquina do governo do Acre.
Aí estamos no terreno da piada. Ela participa, por meio de aliados, do governo do Estado desde 1999.
É parceira dos Irmãos Viana. Seu marido era secretário de estado até a semana passada.
Na mensagem final, Marina pediu votos e disse que não é do tipo de política que faz a luta do poder pelo poder…
Certo!
Isso é para os outros.
A entrevista terminou, e ficou claro que a tal “nova política” só é explicável com o auxílio da velha enrolação.
Transgênicos
Quem não conhece o assunto não se deu conta do tamanho de uma das besteiras que disse.
Afirmou que nunca foi contra os transgênicos (o que é falso, mas vá lá), mas que defendia que houvesse áreas livres dessa modalidade de cultura, numa coexistência entre os dois modelos.
Felizmente, perdeu a batalha.
Qual é o objetivo dos transgênicos?
Aumentar a produção com sementes que já são imunes a determinadas pragas.
Ora, imaginem o que aconteceria se, em certas áreas, os transgênicos fossem proibidos e, em outras, permitidos.
O resultado óbvio: as terras sujeitas a veto teriam de receber doses cavalares de agrotóxico.
Mais: ainda que a proibição atingisse apenas uma parte das terras férteis, é claro que o Brasil não exibiria o robusto desempenho que exibe na agricultura.
Mas eis Marina.
Ela se tornou especialista em assuntos sobre os quais ninguém -- nem ela própria -- entende nada.
Em tempos normais, a entrevista poderia ser devastadora pra ela.