Desde 2008 os farsantes zombam da marolinha que ameaça afogar a economia 30/08/2014
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
“Forçada a enfrentar a crise, Dilma imita Lula e a procissão de bravatas recomeça”, resumiu o título do post publicado em março de 2012.
O texto trata de mais um surto de soberba da doutora em nada que se imagina especialista em tudo, da Petrobras à seca do Nordeste, do trem-bala ao cachorro que vê por trás de toda criança.
Naquele maio, ao caprichar na pose de PhD em crises econômicas de dimensões planetárias para dar conselhos a potências europeias, Dilma Rousseff ampliou o acervo de cretinices acumulado desde 2008, quando a multiplicação dos sinais de perigo precipitou o início do cortejo de falácias, fantasias, mentiras e falatórios sem pé nem cabeça produzidos por governantes irresponsáveis.
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Passados dois anos e meio, o mundo real vai apresentando aos festeiros debochados contas mais salgadas.
Ontem, por exemplo, a entrada em cena do esquálido pibinho do trimestre obrigou os canastrões a improvisar algumas falas para justificar o fiasco histórico.
Dilma, por exemplo, desconfiou que não escaparia da vaia se culpasse apenas a crise internacional pela “recessão técnica”.
E então incluiu na lista dos sabotadores do crescimento econômico até a Copa dos 7 a 1.
“Por causa da Copa do Mundo, tivemos a maior quantidade de feriados na história do Brasil, nos últimos anos, nesse trimestre”, acabou de descobrir a presidente que ainda ontem achava que fora uma ótima ideia melhorar o trânsito nos dias de jogo com o truque da vadiagem coletiva.
O palavrório é tão veraz quanto a história costurada por Lula em 27 de março de 2008, quando a crise nascida nos Estados Unidos já contaminara vários países.
“Um dia acordei invocado e liguei para o Bush”, gabou-se o então presidente. “Eu disse: ‘Bush, meu filho, resolve o problema da crise, porque não vou deixar que ela atravesse o Atlântico’”.
Como Lula só fala português, Bush decerto não entendeu o que dissera o colega monoglota, muito menos que recebera uma ordem.
A crise seguiu seu curso sem sobressaltos, e o presidente invocado voltou ao tema só depois de seis meses -- para comunicar que livrara o país do perigo.
“Que crise? Pergunte ao Bush”, recomendou em 17 de setembro.
“O Brasil vive um momento mágico”, emendou no dia 21.
No dia 22, pareceu mais cauteloso:
“Até agora, graças a Deus, a crise americana não atravessou o Atlântico”, ressalvou.
Uma semana depois, a ficha enfim começou a cair.
“O Brasil, se tiver que passar por um aperto, será muito pequeno”, disse em 29 de setembro.
A rendição pareceu iminente no dia 30:
“A crise é tão séria e profunda que nem sabemos o tamanho. Talvez seja a maior na História mundial”.
Em 4 de outubro, o otimista delirante voltou ao palco para erguer com poucas palavras o monumento à megalomania:
“Lá nos Estados Unidos, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar”.
No dia 8, conseguiu finalmente enxergar o tamanho do buraco.
“Ninguém está a salvo, todos os países serão atingidos pela crise”.
O raquitismo das taxas de crescimento registradas de lá para cá mostrou o que acontece a um país governado por quem se nega a ver as coisas como as coisas são, e enfrenta com bazófias e bravatas complicações econômicas de dimensões globais.
A longevidade da crise confirmou que esse tipo de monstro é impiedoso com populistas falastrões.
Mas o Brasil não aprende: três anos depois, a estratégia inaugurada pelo Exterminador do Plural começou a ser reprisada em dilmês.
Lula acordava invocado com Bush. Em março de 2012, Dilma perdeu a paciência com uma entidade que batizou de “tsunami monetário”.
Numa discurseira de espantar o mais convicto napoleão de hospício, a presidente atribuiu a paternidade da criatura a “países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e sair da crise que estão metidos e que usam, então, despejam, literalmente, despejam quatro trilhões e setecentos bilhões de dólares no mundo ao ampliar de forma muito… é importante que a gente perceba isso, muito adversa, perversa para o resto dos países, principalmente aqueles em crescimento”.
Lula vivia recomendando aos americanos que se mirassem no exemplo do Brasil. Dilma se promoveu a conselheira da Europa.
“Eu acho que uma coisa importante é que os países desenvolvidos não só façam políticas expansionistas monetárias, mas façam políticas de expansão do investimento”, ensinou em 5 de março de 2012.
“Porque o investimento não só melhora a demanda interna, mas abre também a demanda externa para os nossos produtos”.
No dia seguinte, concluiu a lição. “Somos uma economia soberana. Tomaremos todas as medidas para nos proteger”.
Quatro anos depois de reduzido por Lula a marolinha, o tsunami foi desafiado publicamente por Dilma.
“Nós estamos 100% preparados, 200% preparados, 300% preparados para enfrentar a crise”, avisou.
Como o padrinho em 2008, a afilhada resolveu interceptar o cortejo de índices aflitivos com outro balaio de medidas de estímulo ao consumo.
Ficou mais fácil comprar automóveis, os congestionamentos de trânsito ficaram maiores nos dois anos seguintes.
E o governo acabou obrigado a decretar durante a Copa os feriados que, segundo a presidente, acentuaram o raquitismo do pibinho.
Lula jurava que a potência sul-americana que pariu foi a última a entrar na crise e a primeira a dela sair.
Dilma repete de meia em meia hora que o resto do mundo tem até inveja do colosso tropical.
Conversa de 171, prova o infográfico publicado no blog "Impávido Colosso".
Pouquíssimos países fazem companhia ao Brasil no pântano do crescimento zero. A saúde da economia nativa não será restabelecida tão cedo.
Mas já na eleição de outubro deverá ser removido o tumor em expansão há quase 12 anos.
Se continuasse sem controle por mais quatro, os efeitos seriam mortais.