Recessão e incompetência 30/08/2014
- O Estado de S.Paulo
Está confirmado oficialmente: a presidente Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a uma recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda.
Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho.
Mas o governo, além de trapalhão, foi criativo na incompetência.
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Enfiou a economia brasileira no atoleiro enquanto os países desenvolvidos, com Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido à frente, começavam a vencer a crise.
Mas quem, na cúpula federal, se dispõe a reconhecer o desastre e sua causa, o rosário de erros agravados a partir de 2011?
A presidente Dilma Rousseff e seus ministros continuam culpando o mundo pelo desempenho brasileiro abaixo de pífio.
Esse mundo malvado só existe como desculpa chinfrim para um fiasco indisfarçável.
O comércio internacional voltou a crescer, a China continua comprando um volume enorme de matérias-primas e até os países mais afetados pela crise global, como Espanha, Portugal e Grécia, saíram da UTI e estão em movimento.
Mesmo em desaceleração, outros emergentes estão mais saudáveis que o Brasil.
No segundo trimestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu em ritmo equivalente a 4,2% ao ano.
A rápida melhora da maior e mais desenvolvida economia é boa notícia para todo o mundo, mas desmente a lengalenga da presidente Rousseff e de sua equipe.
O crescimento americano foi puxado, principalmente, pelo investimento produtivo, base para novos avanços.
No Brasil ocorreu o contrário. O investimento em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura foi 5,3% menor que no primeiro trimestre do ano e 11,2% inferior ao de um ano antes. No segundo trimestre de 2013, o total investido correspondeu a 18,1% do PIB. Outros emergentes têm exibido taxas frequentemente acima de 24%. Mas o governo ainda conseguiu piorar esse indicador, derrubando a formação bruta de capital fixo para 16,5% do PIB. Foi uma taxa igual à do segundo trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão, arrastado - naquele momento, sim - pela crise global.
O governo é obviamente culpado pela indigência na formação de capital fixo. Os seus erros prejudicam as ações oficiais - o fiasco do Programa de Aceleração do Crescimento é uma prova disso - e ainda criam insegurança entre os empresários. Empresário assustado com as intervenções do governo e muito inseguro quanto à evolução da economia só investe em máquinas, equipamentos e instalações se for irresponsável.
O investimento baixo e ainda em queda compromete o potencial de crescimento econômico.
A recessão no primeiro semestre é parte de um desastre incompleto e ainda em curso.
A produção industrial diminuiu 1,5% no trimestre e ficou 3,4% abaixo da de um ano antes.
No Brasil, a indústria é a principal fonte de empregos decentes e o mais poderoso motor para o conjunto da economia.
Há anos o governo tem cuidado muito mais do consumo que do investimento e, de modo especial, do fortalecimento da indústria.
O resultado é inconfundível.
A criatividade na incompetência é evidenciada também pela combinação de baixo crescimento com inflação elevada e contas públicas em deterioração.
Em julho, o setor público teve déficit primário de R$ 4,7 bilhões. Pelo terceiro mês consecutivo esse indicador ficou no vermelho.
Isso é uma enorme anomalia.
Incapaz de equilibrar suas contas, o governo tem-se comprometido, há muito tempo, a separar pelo menos o dinheiro suficiente para pagar juros e estabilizar ou reduzir sua dívida. Esse dinheiro posto de lado é o superávit primário.
A equipe econômica prometeu um resultado primário de R$ 99 bilhões para todo o setor público.
O governo central -- Tesouro, Previdência e Banco Central -- deveria contribuir com R$ 80,7 bilhões.
Até julho, o governo central acumulou apenas R$ 13,47 bilhões. O setor público total, R$ 24,68 bilhões.
Alcançar a meta, só com muita criatividade e muitos truques.
O desastre fiscal combina os efeitos de dois fracassos -- da política econômica em geral e, de modo especial, dos incentivos tributários concedidos a setores selecionados.