Sempre que Gilberto Carvalho fala, o mundo, o Brasil em particular e, muito especialmente, a política se tornam menos pudorosos, menos decentes, menos inteligentes e inteligíveis, menos sensatos, menos honrados.
É impressionante a capacidade que este senhor, que é secretário-geral da Presidência, tem de penetrar no terreno do grotesco, do absurdo e do asqueroso.
Ontem, domingo, algum figurão do Planalto tinha de vir a público para tentar dar uma resposta às graves acusações que Paulo Roberto Costa, o engenheiro da Petrobras que está preso, fez em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
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Ora, para tarefa tão espinhosa, só mesmo alguém da, digamos, estatura de Carvalho.
Segundo Paulo Roberto, as empreiteiras que faziam negócios com a Petrobras pagavam uma comissão a um grupo de políticos que incluía três governadores de Estado, seis senadores, um ministro, um ex-ministro, 25 deputados e o tesoureiro de um partido.
É o petrolão. O esquema fraudulento funcionou nos oito anos do governo Lula -- que, afirma Paulo Roberto, sempre soube de tudo -- e estava a pleno vapor na gestão Dilma, até ser desbaratado pela Polícia Federal.
A denúncia atinge em cheio três partidos: PP, PMDB e, muito especialmente, o PT.
A candidata Dilma Rousseff falou sobre o assunto -- o que deixo para outro post.
Carvalho se manifestou, reitero, como a voz do governo. E não viu mal nenhum em falar uma penca de barbaridades, que indicam o buraco no qual o país pode estar a se meter caso Dilma Rousseff seja reeleita.
Gilberto Carvalho, acreditem, para escândalo da lógica, do bom senso e da vergonha na cara, disse o seguinte:
“Enquanto houver financiamento empresarial de campanha, e as campanhas tornarem-se o momento de muita gente ganhar dinheiro e de se mobilizarem muitos recursos, eu quero dizer: não há quem controle a corrupção enquanto houver esse sistema eleitoral. Isso é com todos os partidos. Não há, infelizmente, nenhuma exceção”.
O que Carvalho está dizendo é o seguinte: “Nós, do PT, somos corruptos, sim, mas todos são”.
Ora, o que o financiamento privado de campanha tem a ver com o antro em que se transformou a Petrobras?
Digamos que o dinheiro do estado financiasse os partidos. Será que a empresa estaria protegida contra larápios?
A resposta, obviamente, é “não”.
Ao contrário: no dia em que o financiamento privado for proibido, aumentará o volume de caixa dois nas campanhas, e as estatais estarão ainda mais sujeitas ao assalto.
Para lembrar: a lista dos que receberiam propina do Petrolão inclui, entre outros, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu num acidente aéreo no dia 13 de agosto, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio (PMDB).
Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas e Energia, e atinge o coração do Congresso: estão no rol o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e o do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
PT, PMDB e PP seriam os três beneficiários do esquema, que teria também como contemplados os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR), e os deputados João Pizzolatti (PP-SC) e Candido Vaccarezza (SP), além de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.
Carvalho tentou, adicionalmente, desqualificar a acusação, como se tudo não passasse de uma tramoia da oposição.
Até parece que Paulo Roberto Costa procurou a sede do PSDB para fazer sua denúncia.
Errado! Ele já gravou 42 horas de depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público.
Um dos principais ministros de Dilma, vejam vocês, quer aproveitar mais um escândalo que pega em cheio o PT como pretexto para fazer uma reforma política que privilegiaria o seu partido e ainda elevaria exponencialmente o volume de caixa dois nas campanhas, o que deixaria as estatais ainda mais sujeitas à sanha dos companheiros.