Pois é, Valdivia... 29/09/2014
- Antero Greco - O Estado de S.Paulo
Eleger bodes expiatórios embute o risco de tornar simplista a análise de um jogo. Mas há momentos em que não há como evitar que o foco feche em torno de um personagem.
É o caso da derrota do Palmeiras -- a 14.ª em 25 rodadas --, de virada, para o Figueirense, no começo da noite de ontem. Fora as falhas de marcação e de Deola, boa dose de responsabilidade para o fiasco de 3 a 1 entra na conta de Valdivia.
Não dá para aliviar para o lado do chileno no lance em que poderia ter feito o segundo gol e abrir vantagem decisiva. O Palmeiras anda tão carente de vitórias, como São Paulo precisa de chuvas, e teve nos pés do meia a oportunidade de encurralar o adversário, aos 22 minutos do segundo tempo. Para mostrar generosidade e preciosismo, Valdivia preferiu tocar de lado em vez de fechar os olhos e encher o pé, na saída de Tiago Volpi.
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O castigo veio em avalanche, com os três gols poucos minutos mais tarde. Valdivia poderia até alegar, em seu favor, que teve intenção de sair da mesmice, de surpreender, de desconcertar mais o Figueirense com o passe inesperado. Só esqueceu que a fase, pro time dele, é tão ruim, delicada e desesperadora que não se permite o luxo de malabarismo ou virtuosismo. O simples, no caso, funcionaria à perfeição. Inteligência é fazer o básico e essencial.
Valdivia parece não se dar conta da gravidade da situação e age com a ligeireza dos insensatos. Como tem talento e vive rodeado por companheiros medianos e sem brilho, deve achar-se no direito de fazer o que bem entender. De quebra, recebe afagos do presidente do clube, que o considera craque incomparável. Um e outro, pelo visto, desconhecem a história palestrina.
E assim, de inconsciência de um lado, de complacência de outro, e com o desespero da torcida, avizinha-se o terceiro rebaixamento. Pois é, Valdivia como ídolo dá bem a dimensão daquilo em que transformaram o Palmeiras.
Corinthians e a "nervosia"
Durante a partida do Corinthians com o Atlético-PR, dei um salto no passado e lembrei da dona Sebastiana.
Você pode me perguntar: o que tem a ver essa mulher com outra derrota da turma de Mano Menezes?
Ou mais, que apito ela tocava pra ser citada numa crônica sobre futebol?
Dona Sebastiana era pessoa comum, "do lar", vizinha nossa no Bom Retiro, mineira não sei de onde, simples pra chuchu.
Mas conhecida no bairro pela extroversão e por dizer que não gostava de ouvir jogo -- televisão, nem pensar --, pois tinha nervosia, se o time dela jogasse mal.
Era corintiana...
Meu amigo, dona Sebastiana está atualíssima: acompanhar as peripécias alvinegras ultimamente virou motivo para um pobre mortal "ficar com o sistema nervoso", para citar outra frase corriqueira naquelas bandas.
Há exceções, como na vitória sobre o São Paulo, uma semana atrás. Jogo bacana, movimentado, com alternativas. Enfim, à altura da tradição de rivalidade entre ambos.
Na média, passa longe de empolgar. Abusa do rame-rame, joga feijão com arroz com pouco tempero, abusa dos empates (10 em 25 rodadas) e agora deu também para perder -- dois tropeços seguidos, por 1 a 0: contra Figueirense e Atlético-PR.
A escorregada de ontem em Curitiba foi consequência da limitação da equipe, da repetição de estilo monótono, da falta de apetite para finalizar. Weverton só apareceu para repor bola em ação, não fez uma defesa difícil, saiu de campo com o uniforme limpo. Para aumentar a ironia, o Furacão optou por defender-se a qualquer custo e, ainda assim, chutou mais a gol do que o Corinthians. Em vários momentos, pareceu mais perto de ampliar a vantagem do que sofrer o empate.
Mano mudou o time, após primeiro tempo sem graça e que definiu o placar, num pênalti de Elias. O treinador mexeu para ver se surgia uma centelha criativa. Para tanto, apelou para Jadson, Romero, Danilo e... nada. Tivesse tempo adicional e o Corinthians não sairia do tico-tico no fubá, com toque pra lá e pra cá sem levar a lugar nenhum.