Embora excluída do segundo turno, Marina Silva se mantém no centro do palco da disputa presidencial. Não se trata mais da surpreendente história de ascensão e queda da pessebista, mas do suspense acerca de suas decisões nesta nova fase da campanha.
Tendo conquistado 21,3% dos votos válidos, ou pouco mais de 22 milhões de eleitores, a candidata do PSB demonstrou, pelo segundo pleito consecutivo, que detém expressivo capital político. Natural, assim, que tanto o PT como o PSDB desejem granjear seu apoio.
É igualmente natural que a tarefa seja mais árdua, ou mesmo impossível, para petistas. Foram duríssimos os inúmeros ataques que a propaganda da presidente Dilma Rousseff dirigiu a Marina, sobretudo no período em que a ex-senadora aparecia à frente nas simulações de segundo turno.
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Aécio Neves (PSDB), mais comedido nas críticas feitas à pessebista, sente-se à vontade para enviar sinais explícitos. Já disse inclusive que defende uma "nova política" -- numa apropriação, talvez indébita, do jargão preferido de Marina.
O tucano, seja como for, dificilmente poderá ficar apenas no campo retórico. A ex-senadora indicou que precisará de algo concreto para formalizar a aliança -- trata-se, em resumo, de uma maneira de não parecer incoerente com as ideias que defendeu até aqui.
Marina quer que Aécio se comprometa, entre outros itens, com a educação em tempo integral, a sustentabilidade e o fim da reeleição. São pontos já contemplados pelo programa do tucano, mas nem por isso a negociação será fácil.
Ao comentar o fim da reeleição, o mineiro ponderou que o tema deve passar pelo Congresso, não dependendo apenas da vontade do presidente da República. Ainda que esteja correto, o comentário soa como mero subterfúgio de quem não pretende modificar as regras em prejuízo próprio.
O PSDB, nesse ponto, tem o flanco aberto. A reeleição -- mecanismo que esta Folha defende, por garantir o julgamento democrático de uma administração -- foi introduzida em 1997, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, e o então presidente terminou beneficiado pelo instituto.
Independentemente do conteúdo das propostas que Marina Silva quer discutir, ela tem o mérito de induzir uma transação em termos programáticos, e não em torno de cargos e interesses paroquiais.
A população brasileira teria muito a agradecer se Dilma Rousseff e Aécio Neves se inspirassem nessa prática e, deixando de lado a campanha negativa, fizessem do segundo turno um momento de debate de ideias e projetos de país. O horário eleitoral já vai recomeçar.