Os últimos dias de incerteza (e o triunfo do Rivotril) 20/10/2014
- Blog de Geraldo Samor - Veja.com
Gestores de investimentos -- que ganham a vida avaliando e precificando risco -- dizem que nunca foi tão difícil saber o que fazer com seus portfólios para se preparar para o day after da eleição do próximo domingo.
As visões de País quase antagônicas representadas por PT e PSDB e a inédita polarização da sociedade, que ameaça levar o segundo turno para um dramático cara ou coroa, aumentaram o nível de ansiedade e incerteza dos gestores a patamares que lembram a crise de 2008.
A procura por Rivotril está grande.
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“Nunca vi uma situação tão difícil quanto essa,” diz um gestor.
“O que a gente passou em 2008 é fichinha perto do que a gente está passando agora em termos da dificuldade de avaliar o risco. Em 2008, você tinha alguns sinais de que havia uma crise a caminho e que te ajudavam a fazer uma análise. A gente sabia que as coisas estavam relativamente caras e que havia muito risco, e à medida que [os mercados] iam caindo, você podia começar a comprar ações de empresas que não deveriam ser afetadas -- por exemplo, as pessoas não vão deixar de comprar comida ou usar energia elétrica etc…
“Agora é um negócio infernal. Se o Aécio ganhar, você deve ver a Bovespa abrindo entre 10% e 15% de alta na segunda-feira; e se a Dilma ganhar, de 10% a 15% de baixa.”
Geralmente, gestores de fundos de ações mantêm em caixa entre 5% e 10% dos recursos que administram, para poder honrar resgates de clientes. Quando o gestor quer ser excessivamente cauteloso, mantém 20% em caixa. O gestor da conversa acima disse que está com cerca de 30%.
A maioria dos gestores também está preocupada com o nível de "beta" das ações que carregam no portfólio. Beta é a sensibilidade de uma ação ao movimentos (de alta ou de baixa) do mercado.
Empresas como BR Malls e BR Properties, por exemplo, têm um beta alto, ou seja, para cada 1% de alta no índice Bovespa, essas ações podem subir 2%, 3% ou até 5%.
Já outras empresas com fluxo de caixa mais previsível e que dependem menos da taxa de juros, como por exemplo a AmBev, tendem a subir menos na alta e cair menos na baixa, ou seja, têm um beta menor.
O nível de beta afeta diretamente a performance de uma carteira.
No cenário atual, muitos gestores, além de manterem um nível de caixa elevado, estão comprados em ações mais defensivas, portanto, de beta baixo.
Qual é o problema com isto?
Se Aécio ganhar e o índice Bovespa subir 15% em um ou dois dias, as carteiras desses gestores não subirão tanto quanto o índice, o que deve afetar sua performance (e remuneração) no ano.
Neste caso, os gestores que optaram pela cautela terão que explicar a seus cotistas que não são pagos para adivinhar resultados eleitorais, e sim para proteger o patrimônio dos clientes no cenário mais turvo desde 2008.
Os clientes inteligentes devem entender e elogiar esta postura. Num ano binário, um pouco de underperformance não é vergonha para ninguém, mas agressividade inconsequente pode ser fatal.