Público e privado, um abismo 26/10/2014
- Blog de Rodrigo Constantino - Veja.com
Mais uma boa coluna da senadora Kátia Abreu na Folha de S.Paulo.
Devo parabenizar seu ghost writer, algum liberal qualquer que não abandonou seus princípios ainda?
Digo isso pois custo a crer que quem escreveu essas linhas foi a mesma pessoa que pediu votos para Dilma.
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No texto, Kátia Abreu senta o pau na gestão pública, citando o caso específico de Tocantins, por onde foi eleita.
Está fazendo política, claro.
Mas esse não é meu ponto.
O fato é que ela recomenda, como solução para os problemas da gestão pública, que os políticos deixem os métodos da iniciativa privada chegarem até o setor público.
Ela pretende reduzir o abismo existente entre ambos hoje, aproximar as administrações, o máximo possível, já que no setor privado encontramos um comando mais eficaz, moderno.
Kátia Abreu quer transportar tais avanços identificados com a iniciativa privada para os governos.
Somente assim conseguiremos melhorar os serviços públicos prestados à população.
Meta louvável.
Vale notar que o abismo pode ser reduzido, sem dúvida, mas nunca superado totalmente, pois o mecanismo de incentivos é diferente, e inadequado no setor público.
Falta o “olho do dono”, que é quem engorda o boi, como a senadora do agronegócio bem sabe.
Falta esse escrutínio de quem coloca a própria poupança na reta.
Falta a liberdade de punir os mais incompetentes e premiar os mais eficientes.
Mesmo assim, dá para aplicar um bom “choque de gestão”, para levar mais meritocracia para o setor público, para cobrar metas de forma mais objetiva, para blindar áreas fundamentais da politicagem.
Como sabemos que é possível fazer isso?
Porque Aécio Neves fez em Minas Gerais, com bons resultados. Foi o primeiro governador a ser identificado por esse esforço. E foi reconhecido até mesmo pelos petistas, inclusive a presidente Dilma.
Só que ela não fez nada parecido em sua gestão no governo federal.
Ao contrário: tivemos um choque de ingestão, um aumento de politicagem absurdo, um aparelhamento da máquina estatal por pelegos, uma politização das estatais e agências reguladoras, de institutos e fundos de pensão, de tudo!
Portanto, gostaria de compreender qual o sentido de Kátia Abreu louvar -- corretamente -- um choque de gestão do tipo que Aécio fez em Minas, para logo depois pedir voto para Dilma, que representa o oposto disso tudo?